Quando questionados sobre o que achavam do programa, não faz diferença foi a resposta de mais da metade dos moradores entrevistados nos 37 territórios com UPP
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro:
Às vésperas de completar 10 anos de implantação, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro estão desacreditadas pela população, indica pesquisa divulgada neste terça-feira pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes. Quando questionados sobre o que achavam do programa, não faz diferença foi a resposta de mais da metade dos moradores entrevistados nos 37 territórios com UPP.
Cerca de 49% das pessoas ouvidas declararam que a UPP local não vem melhorando nem piorando desde sua instalação. Entretanto, de acordo com uma das coordenadoras da pesquisa, Sílvia Ramos, surpreendeu o dado que mostra que quase 60% dos moradores ouvidos não querem que o projeto acabe.
– Apesar da avaliação extremamente crítica por parte de muitos moradores sobre as UPPs, quando perguntamos se preferiam que as UPPs acabassem, quase 60% responderam que prefeririam que ficassem, mas que fossem modificadas – disse ela.
Para 79% dos entrevistados, uma das medidas necessárias para melhorar o desempenho da iniciativa seria punir os maus policiais. Outras mudanças necessárias citadas foram: melhores condições de trabalho; projetos de capacitação para os jovens e os policiais e a tão prometida oferta de outros serviços públicos, além do policiamento.
Tiroteios
Mulheres são mais favoráveis à permanência da UPP do que os homens (66% contra 58%); e brancos mais do que negros (70% contra 61%). Metade dos moradores afirmou que os tiroteios ocorrem com mais frequência agora do que antes ou no início da UPP. O estudo revela ainda que os jovens são os mais críticos à atuação dos policiais nas favelas.
– Os que mais defendem o fim das UPPs são aqueles que foram mais abordados pela polícia e que tiveram suas casas revistadas. Esse tipo de experiência, muito mais frequente entre os jovens, é muito negativa para a avaliação de todo o resto. Os jovens são um grupo que merece atenção especial. Pois já sofrem muito preconceito, sobretudo, o jovem negro – disse.
Ao todo, 38% dos entrevistados relataram situações em que os policiais das UPPs xingaram ou humilharam moradores da comunidade.
A pesquisadora lembrou que estudo feito apenas com policiais que atuavam em UPPs, em 2014, apontou que as relações entre policiais e moradores estava se deteriorando de forma acelerada.
Outro ponto revelador do estudo, segundo a pesquisadora, foi que 95,8% dos entrevistados declararam não ter tido contato direto com os policiais da unidade em situações do cotidiano.
– Aquele projeto do policiamento de proximidade, do policial que criaria um enraizamento comunitário; que estaria presente na vida dos moradores, não se cumpriu – opinou Sílvia.
A pesquisadora Leonarda Musumeci, que também coordenou o estudo. Ressaltou que, nas áreas nobres do Rio; foi registrada maior percepção de impactos positivos do programa.
Moradores
Cerca de 48% dos moradores das Zonas Sul e centro afirmaram que a UPP trouxe benefícios. Já os da Zona Oeste, área mais negligenciada pelo Poder Público. Apenas 23% viram impactos positivos depois da UPP e 45% disseram que a UPP trouxe problemas, contra 18% dos moradores da Zona Sul e centro.
– Em outras palavras, os resultados da pesquisa parecem refletir a costumeira desigualdade de tratamento do Poder Público às regiões mais ricas e mais pobres do município – afirmou.
– Na medida em que as UPPs foram se multiplicando, em uma velocidade impressionante; os cuidados que havia em relação às primeiras favelas atendidas, na Zona Sul, foram se perdendo. Nas últimas experiências mais para a Zona Oeste; essas favelas receberam um tipo de policiamento mais ostensivo; criando relações de hostilidade com os moradores – explicou Sílvia.
Para 40% dos moradores, a falta de infraestrutura e de serviços urbanos é o principal problema enfrentado na favela; seguido de violência, insegurança, confrontos e tiroteios (32%).
Sobre a pesquisa
A pesquisa foi feita entre 8 de agosto e 25 de outubro de 2016, com questionário de 56 perguntas e uma amostra domiciliar aleatória de 2.479 pessoas com 16 anos ou mais de idade. Foi considerado um universo de 777.506 homens e mulheres; cerca de 15% da população carioca com 16 anos ou mais. Segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Programa de Polícia Pacificadora (UPP) começou em dezembro de 2008; com a ocupação da favela Santa Marta, no bairro de Botafogo, zona sul. De 2009 a 2014, outros 36 territórios da cidade foram incorporados ao programa.