Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Pazuello deseja voltar ao quartel, mas se preocupa com processo no TPI

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Quinta, 16 de Julho de 2020 às 14:28, por: CdB

Antes mesmo da crise aberta pelas declarações de Gilmar Mendes, quanto ao fato de o Exército Brasileiro correr o risco de se ver envolvido em “um genocídio”, devido à atuação institucional da Arma no Ministério da Saúde, o general Pazuello já sinalizara, em conversas com assessores, do seu interesse em retornar ao quartel, na Amazônia.

Por Redação - de Brasília
De malas prontas para o retorno ao quartel, na selva amazônica, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, espera que seu nome não seja incluído no processo em curso, no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda, contra seu superior imediato, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). A decisão de Pazuello coincide com a advertência que Bolsonaro recebeu do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, com quem conversou, noite passada.
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Pazuello ligou para Gilmar Mendes, que não pediu desculpas por declaração sobre 'genocídio' na Saúde
Antes mesmo da crise aberta pelas declarações de Mendes, quanto ao fato de o Exército Brasileiro correr o risco de se ver envolvido em “um genocídio”, devido à atuação institucional da Arma no Ministério da Saúde, o general Pazuello já sinalizara, em conversas reservadas com assessores, do seu interesse em retornar às funções no Comando Militar da Amazônia. General de três estrelas, ele não estaria disposto, ainda, a passar à reserva para, desta forma, permanecer no governo. Ainda assim, Pazuello tem enfatizado que não pedirá para deixar o Ministério da Saúde, embora despeça-se do cargo, imediatamente, se assim o presidente ordenar. Segundo teria afirmado internamente, no Ministério, ele foi chamado para cumprir uma missão e cabe apenas ao presidente, chefe das Forças Armadas, dispensá-lo das funções.

Infectados

Pazuello exercia o comando da 12ª Região Militar, que abrange os Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, quando aceitou o convite, em abril, para integrar o Ministério, no posto de secretário-executivo do então ex-ministro Nelson Teich. Junto com ele, chegaram em Brasília outros 15 militares, todos integrantes do grupo que atuou nas Olimpíadas do Rio, em 2016. A “missão” a que se refere o ministro interino, era de permanecer apenas entre 90 e 100 dias no governo, junto com seus comandados, em funções técnico-administrativas. Com a saída de Teich, em 15 de  maio, Pazuello assumiu a pasta no momento em que a pandemia havia gerado 14.962 óbitos. Desde então, o Brasil já contabiliza 75.523 mortes, segundo dados do consórcio de veículo de imprensa consolidados na véspera, agora perto dos 2 milhões de infectados. Pazuello, no entanto, cogita permanecer, ainda que temporariamente no governo, até o final do ano, se Bolsonaro assim determinar. Sua vontade pessoal, no entanto, é a de deixar o posto o quanto antes, para reassumir o comando de sua unidade militar, da qual está apenas licenciado. A sala do general permanece intacta, com o nome gravado na porta e objetos pessoais dispostos sobre o mobiliário.

Mérito

O Alto Comando do Exército, todavia, designou o general de divisão Edson Rosty para o comando, há 15 dias. A nomeação de Rosty permanece na fila para ser oficializada ainda este mês, nas promoções do Exército, desde que assinada por Bolsonaro. Oficiais do exército, ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil, no entanto, afirmam que, se Pazuello não permanecer no Ministério, voltará ao comando da 12ª Região Militar para cumprir seu tempo de serviço. O mérito do general foi destacado por Bolsonaro em uma rede social. O presidente elogiou a experiência do militar em logística e administração. Na mensagem, disse que “Pazuello é um predestinado, nos momentos difíceis sempre está no lugar certo pra melhor servir a sua Pátria. O nosso Exército se orgulha desse nobre soldado”, disse. O único fato que poderá manchar a folha de serviços prestados à Nação, porém, é o processo em andamento naquela Corte internacional. Na conversa entre o presidente e o ministro Gilmar Mendes, o mandatário neofascista ouviu do magistrado um alerta sobre o risco de a gestão da pandemia do coronavírus parar no TPI.

Sem desculpas

Na conversa com Bolsonaro, o Mendes alertou o presidente sobre o risco de o caso parar no Tribunal, em Haia, conforme ouviu durante conversas em Portugal, onde permanece recolhido, durante o recesso do Judiciário. Segundo amigos do ministro, ele estaria “estarrecido com a imagem externa do país, nesta pandemia”. Na história do TPI, foram presos os ex-presidentes da Libéria Charles Taylor e da ex-Iugoslávia Slobodan Milosevic. Este último morreu na cadeia, enquanto aguardava julgamento sobre crimes de guerra cometidos por ele. Na conversa que teve com o ministro Gilmar Mendes, no dia seguinte ao telefonema de Bolsonaro, o general Pazuello explicou ao magistrado as medidas em curso no combate à pandemia e as dificuldades que tem enfrentado no percurso. O ministro não se desculpou com o general, segundo disseram testemunhas do diálogo.
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