Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

O governo interino do PMDB e o governo do golpe do PSDB

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Sexta, 27 de Maio de 2016 às 07:40, por: CdB

Não há governo interino do PMDB, mas a usurpação do governo pelos donos do poder, utilizando-se de figuras do PSDB

Por Maria Fernanda Arruda - do Rio de Janeiro:
Em 20 de maio, sexta-feira última, as TVs brasileiras deram cobertura integral à fala de Henrique Meirelles e Romero Jucá, entrevista concedida a um batalhão de repórteres e fotógrafos, quase todos analfabetos disfuncionais. Nem mesmo o conceito mais elementar, e base para a proposta neoliberal que se pretende praticar, o do déficit primário, não será explicável por boa parte deles, que nem perguntas minimamente inteligentes, não foram capazes de formular, esclarecendo os sofismas, as imprecisões e os objetivos (inconfessáveis) que inspiram a prática de uma política monetarista, historicamente responsável no mundo inteiro por recessões, desemprego, retrocesso, enfim, o Horror Econômico. Reconheça-se apenas a importância e dura autocrítica: dois Ministros de Estado falaram à Nação, rompendo o silêncio de cemitério abandonado, que governos do PT infelizmente praticaram. O modelo de governo participativo, tão desejado pelo petismo em tempos idos, foi esquecido e arquivado por um Governo que (admitir isso não deve ser privilégio das cabeças neoliberais golpistas) elegeu-se com um discurso, para, uma vez eleito, praticar o que fora proposto pelos adversários. Se águas passadas não movem moinhos, só cabe uma ação: promover o encontro e debate entre dois economistas que foram companheiros e ministérios do PT: Guido Mantega e Henrique Meireles - que o antigo Ministro da Fazenda possa fazer ouvir a sua voz, que foi sempre amordaçada pelos burocratas dogmáticos do partido.
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Maria Fernanda Arruda O PMDB, reforçando-se no “centrão”, estará consolidando o mandonismo coronelístico retrógrado
Não se deve esquecer que Mantega calou a boca daquele que seria o Ministro de Aécio Neves, em entrevista e debate pela TV, isso ainda durante a campanha, quando se opunham os programas do PT e do PSDB. ​Seu​s argumentos eram/são os corretos e valem hoje, para desmascarar a proposta neoliberal de Meirelles, endossada por Jucá. Ironicamente, os dois foram ministros de Lula e de Dilma. Desaprenderam depois. ​Formando​​ uma nova “dupla caipira”, se tivéssemos mesmo um governo do PMDB, poderiam ser substituídos, com imensa vantagem, por Belluzzo, um ​verdadeiro ​economista,que manteve relações históricas com o que foi o partido de Ulisses Guimarães. O próprio instituto de pesquisas nascido das mãos de FHC, o CEBRAP, promoveu um debate em que Belluzzo refutou​ ​ todos os dogmas​ neoliberais​ defendidos​,​ inspirado pelo “príncipe dos sociólogos”. O que já se pretendia m 2015 era a “reformulação do pacto social”,​palavras​ fri​as​ ​,a marca do elitismo retrógrado das elites nacionais. Em palavras simples e compreensíveis para todos: o que​ se pretende​ e que agora poderá ser feito sem pudores é jogar por terra o modelo de política social praticado​ por ​ governos do PT (o “pacto social” proposto por Lula e seguido por Dilma Rousseff). Sabidamente, o equilíbrio, ​eliminando ​o déficit primário, a redução de despesas públicas, uma redução que é sempre imaginada apenas e tão somente em termos de corte radical dos gastos sociais. Os programas “Bolsa Família” e “Minha casa, minha vida”, por mais que mintam, com a afirmação de que serão mantidos, sofrerão um esvaziamento não declarado nem informado. O SUS e todos os demais programas da área de Saúde ​terão​ orçamentos levados ao nível da insignificância, atendendo-se aos reclamos da Máfia de Branco, que jamais aceitou o desafio de uma Medicina voltada para o povo brasileiro, opondo-se ao Programa Mais Médicos e promovendo uma guerra suja contra os médicos trazidos de Cuba. Os ministros Meirelles e Jucá não se propõem a qualquer empenho numa reforma tributária, que elimine ou reduza os privilégios que contemplam os mais ricos, pessoas físicas e jurídicas. Os jornalistas que acompanharam a fata da dupla ministerial, representando a imprensa, calados estavam e calados permaneceram: apenas um repórter perguntou sobre uma eventual reforma tributária. Para Jucá, isso não é problema de ministro, é assunto a ser resolvido no Congresso; quem sabe, sob comando de Cunha. A dupla Meirelles & Jucá usou do tempo que lhes foi concedido pela imprensa para justificar a necessidade de uma política de “arrocho”, com a tão desejada eliminação de gastos sociais, e mais um aumento “temporário” da carga tributária. Completa-se o quadro com a intenção da “reforma da previdência social”, injustificável, quantificada com números mentirosos e planejada de forma obtusa e primária, compatível só mesmo com a alienação generalizada em Brasília – infelizmente,​não esqueçamos​, as ideias que agora do governo interino já foram defendidas pelos ministros da president​a​, não ​prosperand​o em função d​a rejeição radical por parte dos movimentos sociais.​ ​
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Além desse objetivo, a mesma dupla tratou de utilizar seu tempo para sugerir a irresponsabilidade e incompetência, que seriam ​traços ​exclusivos dos governos petistas. ​ N​ão se preocuparam ​na ​ explica​ção​ ​d​o ​descontingenciam​ento​​ de R$ 21 bilhões, do total de R$ 44 bilhões que já tinham sido retidos pela Presidenta​,e​ ​nem chegaram a ​ comentar o aumento agora previsto de mais R$ 20 bilhões nas despesas. Voltemos a lembrar Guido Mantega. À medida em que os pronunciamentos vão sendo feitos, ​fica claro o quadro que um otimismo feliz e irrealista ​impede​ ​que enxerguemos​. Não há governo interino do PMDB, mas a usurpação do governo pelos donos do poder, utilizando-se de figuras do PSDB. Jucá será o manobrista político de Henrique Meireles, o elo de ligação com o Congresso, controlado pelo PMDB (Eduardo Cunha, sombra mandante de Temer). Jose Serra​,​o orientador do processo que pretende rifar o Estado Nacional, muito mais descarado do que aquele procedido nos anos de FHC. Os homens do PSDB querem o poder político como meio para atingir os objetivos de liquidação da Petrobrás, do Banco do Brasil, do BNDES, da Caixa Econômica Federal: eles são os instrumentos da Máfia do Dinheiro. Eduardo Cunha estará satisfeito com o seu poder de régulo,suficiente para usufruir de um enriquecimento digno de um Salomão​.​ O PMDB, reforçando-se no “centrão”, estará consolidando o mandonismo coronelístico retrógrado. Como chegamos a isso? Há sem sombra de dúvidas a coordenada e competente dos que visam lucrar com a liquidação do Estado brasileiro. Não só ele, mas a atuação do Instituto Millenium foi e está sendo fundamental, reunindo a disciplinando a ação de banqueiros, grandes empresários e donos da imprensa; e não se despreze a importância e as armas da Opus Dei. Hoje, é muito claro o controle e comando exercidos, não só no Parlamento, mas no Judiciário. Não basta a ação intempestiva e desequilibrada de um juiz de primeira instância (Sérgio Moro), mas existe a opção clara de boa parte dos ministros do STF pelo golpe (quase todos indicados pelos governos do PT). A Justiça Eleitoral está nas mãos dramáticas de Gilmar Mendes; e o TCU é dominado por velhos coronéis do PMDB. Houve e há, inequívocos, erros, omissões e incompetências de um Governo que se fez e que foi enfraquecido. Há como reagir. Em que pese a omissão burocrática do PT, o povo vai ocupando as ruas, os jovens, os artistas, os intelectuais, a CUT, o MST, profissionais liberais. A figura antes distante e fria de Dilma Rousseff está sendo humanizada pelos que a traíram e pelos golpistas em geral. O que é mais do que nunca necessário: que Dilma Rousseff seja assessorada por competências, quando já não bastam os homens e mulheres “de confiança”. Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras.
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