Publicado Quarta, 24 de Fevereiro de 2016 às 07:32, por: CdB
Governo austríaco convida nove nações dos Bálcãs para debater soluções para a crise migratória, Grécia fica de fora do encontro, o que eleva as tensões entre Viena e Atenas
Por Redação, com DW - de Viena:
Pouco antes do início de uma cúpula sobre migração com líderes dos Bálcãs, o governo austríaco anunciou a possibilidade de enviar suas Forças Armadas ao exterior e ajudar países no controle de suas fronteiras.
– A Áustria é favorável ao reforço dos controles fronteiriços ao longo da rota dos Bálcãs e, com isso, está oferecendo à Macedônia também o apoio de soldados austríacos – disse o ministro da Defesa da Áustria, Hans Peter Doskozil, nesta quarta-feira.
Viena convocou para esta quarta-feira uma cúpula intitulada "Gerenciamento conjunto da migração"
O Ministério da Defesa já enviou representantes a Skopje, a fim de esclarecer com as autoridades locais as necessidades do país vizinho à Grécia.
Viena convocou para esta quarta-feira uma cúpula intitulada "Gerenciamento conjunto da migração", que inclui a presença de ministros de Albânia, Bósnia, Bulgária, Croácia, Kosovo, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Eslovênia.
A Grécia, país europeu mais afetado pela rota dos migrantes e refugiados, não foi convidada, elevando assim as tensões entre Viena e Atenas.
O Ministério do Exterior da Grécia reagiu e afirmou que a exclusão significa que a cúpula é "uma tentativa de tomar, sem a Grécia, decisões que afetam diretamente a Grécia e as fronteiras gregas".
Os ministros devem discutir questões como a gestão de fronteiras e o combate a contrabandistas de seres humanos, além da melhora da troca de informações. "É importante pararmos o fluxo de refugiados ao longo da rota dos Bálcãs", afirmou a ministra do Interior da Áustria, Johanna Mikl-Leitner.
A cúpula em Viena também tentará obter posições unificadas visando o encontro dos ministros do Interior da União Europeia (UE), agendado para esta quinta-feira.
Segundo Doskozil, o interesse numa solução europeia para a crise migratória segue em pauta, mas enquanto o registro de imigrantes não funcionar corretamente na Grécia, não houver uma redistribuição dos refugiados e nem uma cooperação com a Turquia, medidas nacionais seguirão sendo implementadas.
Nas fronteiras austríacas, o número de soldados foi aumentado, desde segunda-feira, de 450 para 1.450. No fim de 2015, Viena havia decidido enviar até 2.200 soldados às fronteiras para lidar com a chegada de migrantes.
Pressão sobre Berlim
No sudeste da Europa e na Áustria há um clima de incerteza em relação ao que pode acontecer caso a Alemanha deixe de praticar sua "cultura de boas-vindas".
O ministro austríaco do Exterior, Sebastian Kurz, exigiu uma mensagem clara de Berlim. Em entrevista ao tabloide alemão Bild, Kurz disse esperar que a Alemanha "diga se ainda está pronta para receber refugiados e quantos, ou se não está mais disposta a isso".
– No ano passado, a Áustria teve o dobro de pedidos de asilo per capita do que a Alemanha – afirmou o ministro, defendendo a mudança de rumo político de Viena. "Isso não pode acontecer uma segunda vez."
Na semana passada, o governo austríaco anunciou ter decidido limitar a 80 o número de requerimentos de asilo aceitos por dia e a 3,2 mil a quantidade de refugiados autorizados a cruzar a fronteira diariamente.
Bélgica
A Bélgica anunciou na terça-feira a reintrodução temporária dos controles na fronteira com França. Segundo o ministro belga do Interior, Jan Jambon, a medida visa impedir a entrada de imigrantes que abandonem o acampamento francês conhecido como a "Selva de Calais", no norte de França.
– Informamos a Comissão Europeia de que vamos suspender temporariamente as regras de Schengen – disse o ministro belga, em Bruxelas. "A Bélgica não está fechando suas fronteiras", ressalvou.
– Vamos realizar controles em diversas localizações estratégicas, pontos utilizados pelos traficantes e já detectados pela polícia – disse, acrescentando que a ação envolverá entre 250 e 290 policiais ao longo da fronteira.
As autoridades francesas decidiram evacuar a metade sul do campo de refugiados de Calais e estabeleceram um prazo, que terminou nesta terça-feira, mas foi prorrogado por um tribunal administrativo de Lille.
Cerca de 4 mil imigrantes, oriundos sobretudo da África subsaariana, vivem em condições muito precárias no acampamento de Calais, à espera de uma oportunidade para atravessar clandestinamente o Canal da Mancha e chegar ao Reino Unido.
O receio da Bélgica é que os imigrantes tentem chegar ao porto belga de Zeebrugge, para de lá tentar atravessar o canal por meio de uma rota diferente. "O desmantelamento da chamada selva é possível e real. Já observamos migrantes em trânsito", disse o ministro belga.
– Há potencial de milhares de migrantes virem para cá. Não se trata de candidatos a asilo, mas de migrantes em trânsito que não querem ficar na França nem na Bélgica, mas ir para o Reino Unido – acrescentou.
A zona de livre circulação de Schengen abrange 26 países e prevê nas suas regras que um país pode reinstituir temporariamente o controle fronteiriço em circunstâncias excepcionais de "ameaça grave para a ordem pública ou a segurança interna".
Com a Bélgica, são agora sete os países da zona de Schengen que reintroduziram controles de fronteira em resposta ao imenso fluxo de migrantes e refugiados à Europa.
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