Fidel mostrou ao mundo que a arma mais quente dos idealistas não é aquela que se carrega com pólvora e chumbo, mas com o respeito à fragilidade humana
Por Sergio Nogueira Lopes - do Rio de Janeiro
A morte do comandante Fidel Castro, líder de uma revolução heróica e vitoriosa, simboliza o desaparecimento de parcela da Humanidade. Morrem com ele, símbolo de luta sem trégua contra o fascismo e o imperialismo que ora se impõem, no Ocidente, os sonhos de todos aqueles que, até o último suspiro, lançaram-se no enfrentamento à miséria e à exploração do homem pelo homem. Nesse ciclo da vida, não há outro de sua estatura.
Fidel mostrou ao mundo que a arma mais quente dos idealistas não é aquela carregada de pólvora e chumbo. Mas com o respeito à fragilidade humana. O líder de uma Nação tratada como quintal, bordel, pocilga de corruptos e entreguistas, pegou em armas. Sua coragem e a de tantos companheiros, a exemplo de Camilo Cienfuegos e Ernesto Che Guevara, expulsaram das fronteiras cubanas a potência imperialista da vez.
Arriba, Fidel!
A vitória no campo militar, por mais relevante e significativa, no entanto, equilibra-se com as conquistas sociais. Ao longo de quase um século, Cuba tornou-se exemplo de solidariedade e humanismo. Os vizinhos do Norte exportam armas e guerras. Mas os cubanos enviam os médicos e o modelo de Educação que curam do analfabetismo e do descaso os pobres, os desvalidos.
“Milhares de crianças estão passando fome no mundo hoje. Nenhuma delas é cubana” disse Fidel, em pronunciamento histórico. Enquanto os poderosos tentavam assassiná-lo — e falharam por mais de uma centena de vezes — Fidel devotava sua vida à resistência. Enfrentou o pior embargo já imposto a um país, desde a existência das Nações Unidas. Como nenhum outro líder político, na face da Terra, Fidel elegeu a Saúde e a Educação como forma de consolidar uma nova realidade.
Cuba, hoje, é um exemplo para as futuras gerações de que um outro mundo é possível. Uma aliada de todas as outras nações que lutam contra o imperialismo e a opressão. Perdeu, com a morte de Fidel, o seu filho mais querido. Ainda assim, o legado que fica de uma vida exemplar será a inspiração para que nenhum povo se submeta ao egoísmo. Que jamais um país seja anexado aos interesses de qualquer outro, por mais poderoso que possa parecer. Que não ceda um milímetro sequer na autodeterminação de se manter digna e honrada.
Fim da exploração
Quando tudo parecia dominado pela potência distante 140 quilômetros de Havana, que submetia seus desafetos aos desígnios do capitalismo mais selvagem, Fidel lidera a revolução que liberta a Ilha das garras da miséria. Promove o fim da exploração pelos Estados Unidos, sob a gerência de mafiosos, traficantes e bandidos de toda ordem. Mesmo sob a mais intensa pressão internacional, cria um Estado igualitário. Resgata da fome e da corrupção um contingente humano que, hoje, alcança Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) semelhante ao dos países nórdicos.
Cercada por todos os lados pela mediocridade que se alastra, nesses tempos perigosos, a Ilha de Fidel é um ponto de referência. Em pleno Caribe, estende-se um farol para aqueles que vivem os mesmos ideais um dia defendidos por um jovem judeu. Ele que, hoje, é representado na Terra por um homem bom, chamado Francisco. Talvez seja este a derradeira voz das pessoas bem que vagam por essa existência.
Desde que visitei Cuba pela primeira vez, ainda na década de 90, guardo comigo a leveza dos passos da minha filha. A luminosidade nas aulas de balé da professora Alícia Alonso, uma referência mundial que somente a Revolução Cubana poderia gerar. Preferimos a aconchegante habanera e os seus tons calientes, às frias, comportadas e entediantes classes estabelecidas em Londres, Nova York e Paris.
Hasta Siempre, comandante!