Executivo da Camargo Corrêa diz que conhecia Youssef e Janene
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Terça, 26 de Maio de 2015 às 09:02, por: CdB
O executivo Eduardo Hermelino Leite, ex-vice-presidente da construtora Camargo Côrrea, disse à CPI da Petrobras, nesta segunda-feira, que foi apresentado ao doleiro Alberto Youssef e ao ex-deputado José Janene pelo ex-presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa João Ricardo Auler. Segundo Leite, Youssef e Janene tinham ido à Camargo Corrêa cobrar o pagamento de propina por obras da estatal.
- Ele me apresentou a eles e disse que esse assunto [propina] seria tratado por mim a partir de então - disse.
Youssef e Janene (ex-deputado morto em 2010) são apontados como operadores do PP, ligados ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Auler chegou a ser preso pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, assim como o executivo Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa. Avancini confirmou à CPI da Petrobras que a empreiteira pagou R$ 110 milhões em propina aos ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque.
A Camargo Corrêa venceu licitações no valor de mais de R$ 6 bilhões para obras nas refinarias Getúlio Vargas, no Paraná, e Abreu e Lima, em Pernambuco.
Auler será ouvido ainda nesta terça-feira pela CPI da Petrobras.
Negociações de propina com Vaccari
Eduardo Hermelino Leite disse que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto propôs a ele que a empreiteira quitasse débitos referentes ao pagamento de propinas na estatal por meio de doações oficiais ao partido.
Segundo Leite, a proposta foi feita a ele na segunda vez que esteve reunido a sós com Vaccari, sempre em restaurantes de São Paulo. “Da primeira vez a conversa foi institucional e ele me perguntou como funcionava a doação eleitoral dentro da Camargo”, explicou.
No encontro seguinte, segundo ele, “a conversa foi outra”.
- Ele me disse que estávamos em débito com o pagamento de propina à diretoria de Serviços [ocupada por Renato Duque] e me ofereceu para quitar a dívida por meio de doações oficiais ao PT - disse.
Leite disse à CPI que a Camargo Correa não aceitou a proposta e continuou a fazer o pagamento de propina por meio de empresas de consultoria de fachada, como vinha fazendo.
Para evitar corrupção
Leite disse à CPI que a maneira mais eficiente de evitar superfaturamento, pagamento de propina ou outros ilícitos em obras é a existência de um projeto de engenharia definido, com quantificação precisa de preços. Ele disse isso ao responder pergunta do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da CPI.
- Quando você não tem precisão você fica refém de quem estabelece os preços. O orçamento preciso impede qualquer ilícito - afirmou.
Leite deu como exemplo uma hidrelétrica que a Camargo Corrêa construiu em Medellin, na Colômbia.
- A variação de preço entre o projeto e a entrega foi de 3% porque eles tinham total precisão de orçamento - contou.
O executivo Eduardo Hermelino Leite, ex-vice-presidente da construtora Camargo Côrrea, admitiu à CPI da Petrobras ter participado do pagamento de propina a agentes públicos e privados.
Antes de ser interrogado, Leite leu uma declaração em que se diz arrependido e admite que executou os compromissos que a Camargo Correa tinha em relação a contratos com a Petrobras.
- Lamentavelmente participei do pagamento de propina a agentes públicos e privados - disse.
Ele admitiu ter conhecido os ex-diretores da Petrobras Renato Duque e Paulo Roberto Costa, bem como o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-deputado José Janene, o doleiro Alberto Youssef e o executivo Júlio Camargo – todos acusados de participação no esquema de desvio de verbas da Petrobras.
- Mais que arrependimento, tenho profunda frustração profissional - disse o executivo aos parlamentares.
Leite ficou preso quase quatro meses acusado de corrupção, organização criminosa, lavagem de dinheiro e uso de documentos falsos. Ele foi libertado depois de fazer delação premiada, na qual admitiu ter pagado propina ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.Leite está sendo ouvido na CPI na qualidade de colaborador, com a obrigação de dizer a verdade sobre irregularidades na Petrobras.