O primeiro-ministro Alexis Tsipras tenta nesta quarta-feira obter a aprovação no Parlamento grego do acordo com os credores, que permitirá a Atenas ter acesso a seu terceiro programa de resgate. Para isso, no entanto, Tsipras enfrenta uma crescente oposição dentro de seu partido, o Syriza. Os rebeldes da base aliada criticam o premiê por fazer concessões em favor de medidas de austeridade que contrariam suas promessas de campanha eleitoral. Dezenas de parlamentares, incluindo membros de destaque da bancada de apoio ao Syriza, podem rejeitar o pacote resgate – parcial ou totalmente. Isso forçaria Tsipras a depender de deputados pró-Europa, da oposição, para vencer a votação, esperada para depois da meia-noite (horário local). Nas deliberações que antecedem as sessões plenárias, a presidente do Parlamento, Zoi Konstantopoulou, correligionária de Tsipras, apelou para que os deputados rejeitem o projeto de lei. Para ela, os parlamentares não podem deixar que seja “completada a chantagem” ao país – que, segundo ela, teria sido planejada na Alemanha e selada em Bruxelas. A quarta-feira começou complicada para Tsipras, que recebeu a carta de demissão da vice-ministra das Finanças, Nadia Valavani. A deputada disse que não pode votar a favor da emenda e, em consequência, não pode ficar no governo. Já o recém-nomeado ministro das Finanças, Euclid Tsakalotos, disse aos parlamentares que o acordo é mais forte do que o pacote de resgate de novembro de 2012. Para ele, o novo acordo inclui um compromisso mais forte dos credores para discutir a reestruturação da dívida. - É um acordo difícil, um acordo que apenas o tempo mostrará se é economicamente viável - disse o ministro a parlamentares durante um debate sobre as reformas. Se a maioria parlamentar do primeiro-ministro de fato entrar em colapso, uma eleição antecipada pode ter que ser convocada. - A escolha entre o resgate ou a catástrofe é uma escolha feita sob terror - disse Panagiotis Lafazanis, que lidera a ala de extrema esquerda do Syriza. Polícia de prontidão Na praça Syntagma, à frente do Parlamento, sindicatos e grupos políticos preparam protestos contra as medidas de austeridade durante a votação do pacote. Funcionários públicos começaram uma greve de 24 horas. Farmacêuticos fecharam seus estabelecimentos, e trabalhadores do município paralisaram as atividades em protesto. Eles marcharam pela manhã na capital grega e prometeram greves em larga escala. A polícia está de prontidão em Atenas e nas maiores cidades do país. Segundo o Ministério das Finanças, as agências bancárias pelo país estão fechadas há uma semana, e devem permanecer até quinta-feira. A oposição ao acordo é bastante restrita. Conforme pesquisa de opinião publicada na terça-feira, 70% da população querem que o Parlamento aprove as medidas que viabilizam o pacote. - Depois de cinco anos de cortes salariais e medidas severas, os europeus ainda querem mais - disse Stavros Koutsioubelis, porta-voz do sindicato do setor público Adedy. E opina por sua vez Christos Vagenas, que votou no Syriza: “Existia uma proposta diferente antes das eleições, por isso essas medidas não deveriam ser aprovadas. Se forem aprovadas, eles não deveriam implementá-las". O projeto de lei que foi apresentado na terça-feira no Parlamento foi montado com base nas demandas dos credores, após a reunião de cúpula decisiva da zona do euro, na qual um acordo preliminar foi definido. Na ocasião, foram prometidas reformas que se tornaram condição para que o país receba o resgate de 86 bilhões de euros. Em Bruxelas, a Comissão Europeia propôs ajudar a Grécia com um empréstimo de mais de 7 bilhões de euros como uma medida paliativa a fim de que o país consiga enfrentar o mês de julho, enquanto o pacote de três anos é preparado. O apoio seria dado pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira, mas só será liberado após o Parlamento aprovar as reformas, e o governo adotar medidas firmes para implementá-las.
Com base aliada rachada, Alexis Tsipras tenta aprovar reformas
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Quarta, 15 de Julho de 2015 às 12:11, por: CdB