Parceria improvável entre Bruxelas e Pequim visa fazer frente a provável retirada dos EUA do pacto internacional sobre o clima. Após questionar confiabilidade de aliados tradicionais, Merkel se volta para Ásia
Por Redação, com DW - de Bruxela:
China e União Europeia (UE) sinalizaram uma aproximação para salvaguardar a implementação do Acordo do Clima de Paris, diante da provável retirada dos Estados Unidos do histórico tratado internacional para a redução das emissões globais dos gases causadores do efeito estufa.
A posição do governo do presidente norte-americano, Donald Trump, em relação ao meio ambiente. Além do protecionismo alardeado por Washington no comércio internacional, levou à busca de um contato mais estreito entre Pequim e Bruxelas.
O premiê chinês, Li Keqiang chegou a Berlim na quarta-feira para dois dias de reuniões com a chanceler federal alemã, Angela Merkel. A visita ocorre às vésperas de um encontro com líderes da UE em Bruxelas. Onde deve reforçar o comprometimento de seu país com o Acordo de Paris.
Em Berlim, Li afirmou que lutar contra as mudanças climáticas é uma "responsabilidade internacional" e um "consenso global". E não "uma invenção da China", em referência a acusações feitas por Trump. "A China tem promovido ativamente o Acordo de Paris e fomos uns dos primeiros a ratificá-lo."
Após afirmar que a Europa deve seguir seu próprio caminho. Uma vez que os Estados Unidos e o Reino Unido já não seriam parceiros tão confiáveis. Merkel parece voltar suas atenções à Ásia. Antes das reuniões com o premiê chinês, a chanceler federal alemã recebeu no início da semana o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
"Resposta decisiva" ao aquecimento global
Em declaração apoiada por todos os 28 países do bloco, a UE e a China devem sair, nesta sexta-feira, em defesa da implementação total do Acordo de Paris. Assinado em 2015 por 196 países. Anteciparam autoridades europeias e chinesas.
No inédito comunicado oficial emitido em conjunto, europeus e chineses irão renovar o compromisso de reduzir as emissões de gases do efeito estufa e a diminuir o uso de combustíveis fósseis, limitando o aquecimento global ao máximo de 2 ºC acima dos níveis pré-industriais.
As duas partes se comprometem a incentivar o desenvolvimento de tecnologias verdes e ajudar a arrecadar US$ 100 bilhões por ano até 2020 para ajudar as economias mais vulneráveis a reduzirem suas emissões de carbono. Segundo anteciparam autoridades.
– A UE e a China consideram as ações climáticas e a transição para energias limpas um imperativo mais importante do que nunca – diz a declaração assinada pelos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Conselho Europeu, Donald Tusk, e pelo premiê chinês. "Os impactos cada vez maiores do aquecimento global exigem uma resposta decisiva", diz o texto.
A China, que superou os Estados Unidos em 2007 como o maior emissor mundial de gases causadores do efeito estufa, está disposta a apoiar o posicionamento da UE em relação ao meio ambiente, apesar de tensões envolvendo outros temas, como direitos humanos e comércio exterior.
Temas espinhosos
A UE segue observando com cautela algumas das atitudes adotadas pelo seu segundo maior parceiro comercial. Como em relação à militarização de ilhas do Mar da China Meridional ou ao que considera tendências autoritárias do governo de Xi.
A aproximação improvável, em grande parte motivada pelas posições adotadas pelo governo Trump. Ocorre após desentendimentos de longa data entre Pequim e Bruxelas. Também na questão do comércio exterior. A Europa, por exemplo, acusa a China de inundar o mercado europeu com bens de baixo custo.
Bruxelas, porém, almeja chegar a um acordo sobre investimentos para abrir o enorme mercado chinês às empresas europeias. Remover as onerosas barreiras que impedem o compartilhamento de know-how em diversas áreas.
Empresários europeus relatam um aumento das dificuldades de realizar negócios na China. Alguns acusam Pequim de limitar o acesso de estrangeiros ao mercado chinês em favor de empresas domésticas.