Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Ausência de Dilma em festa do PT amplia tensão no partido

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Sábado, 27 de Fevereiro de 2016 às 18:25, por: CdB

Dilma Rousseff, para explicar sua ausência, enviou uma carta, lida durante a festa do PT, na qual sai em defesa do partido e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva

Por Redação - do Rio de Janeiro
Após a presidenta Dilma Rousseff confirmar que compareceria à festa de 36 anos do PT, na noite deste sábado, uma série de rumores assaltaram as redes sociais. Muitos deles apontavam para a tensão gerada após os acordos fechados entre o governo e oposição, para a entrega do pré-sal brasileiro à exploração das grandes petrolíferas norte-americanas.
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Dilma, presente à festa do PT, no ano passado, preferiu não comparecer ao aniversário de 36 da legenda, este ano
Ela disse que o partido já foi avisado e que sua ausência decorre do fato de ela estar no Chile. Segundo a dirigente, essa viagem tem grande relevância, pois o país é um importante parceiro comercial, cujo estoque de investimentos no Brasil chega a US$ 26 bilhões. — Eu gostaria muito (de ir), mas imagino que você perceba que entre o Chile e o Brasil tem um problema de distância. (…) São quatro horas de avião e eu ainda tenho um almoço com a presidenta (chilena) Michelle Bachelet e uma fala na Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) — disse a mandatária, em breve conversa com jornalistas, na capital chilena, pela manhã. Durante o evento na Cepal, Dilma também conversará com a secretária-executiva, Alicia Bárcena, e com economistas do órgão. O evento do PT acontece em um dos momentos de maior tensão na relação do partido com Dilma, que chegou a dizer a aliados que gostaria de não participar da festa. Segundo a presidenta, os atritos não são pessoais e é normal haver discordâncias, embora cresça o rumor de que ela pretende deixar a legenda. — Não é possível vocês acharem que essa relação tenha mágoas — afirmou, sem um sentido aparente. Dilma acrescentou que as propostas diferentes fazem o governo amadurecer e que nem o governo nem os partidos são "donos da verdade". O voo de volta da presidenta saiu de Santiago, pontualmente, às 17h, com destino a Brasília. A festa do partido teve início às 18h. A viagem da presidenta ao Chile foi organizada em cima da hora — os preparativos começaram há cerca de uma semana. O sub-secretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe, embaixador Paulo Estivallet, afirmou que a decisão abrupta se deu porque a agenda de Dilma estará bastante atribulada nos próximos meses, sobretudo no segundo semestre por causa da Olimpíada.

Rota de colisão

A presidente Dilma Rousseff voltou a defender neste sábado a CPMF e a reforma da previdência — assuntos que estão criando atritos com o PT, contrário às reformas na área. — Um partido é um partido e um governo é um governo. Eu não governo só para o PT. Eu governo para os 204 milhões de brasileiros. Não governo só para PP, PSD, PDT, PTB, PMDB. Eu tenho de governar olhando todos os interesses — afirmou neste sábado, em seu último dia de visita ao Chile. A declaração também foi mal digerida por parte dos petistas. A dirigente disse também que, para recuperar o grau de investimento, o país necessita estabilizar sua situação fiscal e que isso não pode ser feito sem alterações na previdência. Sua ideia é que as mudanças sejam feitas no logo prazo. — O período de transição em uma reforma previdenciária tem de ser longo para que você possa diminuir os impactos — afirmou. Além dos cortes nas despesas, Dilma comentou a necessidade de se aumentar as receitas e insistiu que isso deve ser feito com a CPMF. A presidente acrescentou que realizará neste ano leilões de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias para elevar o nível de investimentos no país e aquecer a atividade econômica. Apesar de o PT convergir com a ideia da recriação da CPMF, ele diverge bastante de Dilma em relação às outras política econômicas. Nesta sexta-feira, o partido publicou o seu programa de combate a crise. Entre as medidas apresentadas, está a utilização de parte das reservas internacionais na promoção do investimento. Dilma afirmou que, mesmo tendo um projeto diferente do partido, conta com sua base aliada para aprovar as reformas. — Sobretudo o PT, que é o partido ao qual pertenço e pelo qual fui eleita — prosseguiu.

Carta à militância

Dilma Rousseff, para explicar sua ausência, enviou uma carta, lida durante a festa do PT, na qual sai em defesa do partido e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Ela afirmou que os ataques a seu governo não a "farão recuar" do rumo em que segue o governo. O tom do documento, porém, não foi bem recebido pela cúpula da legenda, insatisfeita com a ausência da presidenta nas festividades e com a agenda econômica colocada pelo Planalto com defesa de temas que contrariam bandeiras históricas da sigla. Na carta, Dilma diz que há um "ataque sistemático" a Lula, ao PT e a seu governo. Em uma das maiores críticas até aqui às investidas contra o partido, aponta uma "moralidade seletiva" na tentativa de "criminalizar e envenenar a sociedade contra nós". A petista também sai em defesa de Lula. Diz que ele é um "patrimônio político" e que "vem sendo duramente atacado, de forma injusta". "Sou e serei solidária ao meu amigo e companheiro Lula em todas as ocasiões, e continuarei a seu lado em todas as batalhas que certamente ainda travaremos”, conclui.
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