O corpo humano pode abrigar diversos vírus perigosos que permanecem inativos dentro das células. Como exemplos estão o vírus do herpes simples (HSV-1), presente em mais de 80% dos indivíduos.
Por Redação, com ANSA – de Washington
Traumas na cabeça e lesões leves no cérebro após impactos, tão frequentes em esportes como o futebol e o boxe, constituem uma séria ameaça: podem despertar vírus latentes como o herpes, que “adormecem” no cérebro da maioria das pessoas, provocando inflamação e danos celulares que abrem portas a doenças neurodegenerativas, que vão do Alzheimer ao Parkinson.
O estudo, conduzido pela Universidade Tufts, nos Estados Unidos, e publicado na revista Science Signaling, sugere a administração de medicamentos antivirais como tratamento preventivo após um trauma craniano.
A pesquisa também revelou que lesões na cabeça não se limitam à prática de esportes, afetando cerca de 69 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, com um custo estimado em US$ 400 bilhões (R$ 2,4 trilhões) anualmente.
O corpo humano pode abrigar diversos vírus perigosos que permanecem inativos dentro das células. Como exemplos estão o vírus do herpes simples (HSV-1), presente em mais de 80% dos indivíduos, e o da catapora, em mais de 95% das pessoas.
Utilizando um modelo de tecido cerebral obtido em laboratório, pesquisadores liderados por Dana Cairns submeteram a amostra a um trauma simulado, que ativou o vírus do herpes que estava adormecido nas células: o despertar do vírus, nas semanas e meses seguintes, desencadeou sintomas característicos da doença de Alzheimer, como formação de placas amiloides, acúmulo da proteína tau, inflamação e morte de neurônios.
Traumas repetidos causam efeitos ainda mais graves, enquanto na ausência de vírus não há vestígios dos sinais típicos das doenças neurodegenerativas.
– Isto nos faz questionar se medicamentos antivirais ou anti-inflamatórios podem ser úteis como tratamentos preventivos após traumatismo cranioencefálico a fim de bloquear a ativação do HSV-1 e reduzir o risco de Alzheimer – afirma Cairns.
Pesquisa italiana identifica raízes do Alzheimer em DNA antigo
A pesquisa de um grande grupo internacional de aproximadamente 175 pesquisadores, incluindo italianos, revela que as raízes de várias doenças neurodegenerativas, como esclerose múltipla e Alzheimer, remontam a um passado distante, tendo sido introduzidas no DNA dos europeus por antigas populações que migraram da Ásia há cerca de 5 mil anos.
Os resultados foram obtidos através do desenvolvimento da maior base genética humana antiga, acessível livremente, ao longo dos últimos cinco anos. Foram analisados ossos e dentes de quase 5 mil indivíduos.
Os resultados foram publicados em quatro estudos na revista Nature, coordenados pela Universidade dinamarquesa de Copenhague, com a participação da Universidade de Cambridge, na Inglaterra; e Berkeley, na Califórnia.
Contribuíram para os estudos também as Universidades Sapienza e Tor Vergata de Roma, a Universidade de Siena, as Superintendências de Arqueologia, Belas Artes e Paisagem de Bari e Cosenza, e a Superintendência de Bens Arqueológicos da região de Marcas.
– Este trabalho representa o futuro de pesquisas desse tipo, especialmente considerando os consideráveis investimentos necessários para conduzi-las. Agora estamos lidando com números muito grandes, pois as novas tecnologias permitiram uma significativa redução nos custos, algo impensável no passado – disse Alfredo
Coppa, pesquisador e professor da Sapienza de Roma e um dos autores dos estudos.
Analisando o DNA antigo preservado em coleções museológicas em toda a Europa e Ásia Ocidental, os pesquisadores cobriram um período que remonta a 34 mil anos atrás, indo até a Era Viking e a Idade Média.
Esses dados foram então comparados com o DNA moderno de 400 mil pessoas que vivem no Reino Unido, armazenado no extenso banco de dados britânico UK Biobank.
– A criação de um banco genético dos antigos habitantes da Eurásia foi um projeto colossal. Demonstramos que nosso banco genético funciona como uma ferramenta de precisão capaz de nos fornecer novos conhecimentos sobre doenças humanas. Isso, por si só, é surpreendente, e sem dúvida terá muitas implicações – afirma Eske Willerslev, coordenador do estudo.
Os autores descobriram que os genes que aumentam significativamente o risco de desenvolver esclerose múltipla foram introduzidos no noroeste da Europa há cerca de 5 mil anos, por pastores que migravam do leste: o DNA antigo permitiu identificar precisamente uma região que hoje se estende da Ucrânia ao sudoeste da Rússia e oeste do Cazaquistão.
Essas variantes genéticas, apesar de aumentarem o risco de esclerose múltipla, conferiram uma vantagem de sobrevivência a esses pastores, pois provavelmente os protegiam contra infecções transmitidas pelo gado.
– Esses resultados alteram nossa visão das causas da esclerose múltipla e têm implicações na forma como é tratada – acrescenta Willerslev.
Além disso, genes conhecidos por aumentar o risco de doenças como Alzheimer e diabetes tipo 2 foram rastreados até antigas populações de caçadores-coletores, e análises futuras podem revelar novas informações também sobre distúrbios psiquiátricos, como o transtorno de déficit de atenção e esquizofrenia.
– O grande interesse nessas pesquisas está principalmente nos aspectos médicos: entender o mecanismo genético subjacente às patologias permitirá intervir de maneira mais eficaz, portanto, os resultados obtidos deverão ser explorados ao máximo – conclui Coppa.