A disparada das tarifas, pior do que o esperado, atinge mais fortemente a Ásia e algumas das nações mais pobres do mundo. Isso pode marcar um ponto de inflexão negativo para a dívida dos mercados emergentes.
Por Redação, com Reuters – de Cingapura e Londres
Economias emergentes de todo o mundo estão se preparando para a queda das moedas e uma possível deterioração de seu crédito soberano depois que as tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, elevaram os impostos sobre as importações norte-americanas aos níveis mais altos, nos últimos 100 anos.

A disparada das tarifas, pior do que o esperado, atinge mais fortemente a Ásia e algumas das nações mais pobres do mundo. Isso pode marcar um ponto de inflexão negativo para a dívida dos mercados emergentes, em um momento em que muitas nações esperavam atrair investimentos após anos de aversão ao risco.
— Estamos preocupados com o possível impacto das tarifas severas impostas a uma série de economias emergentes – uma abordagem que corre o risco de prejudicar ainda mais as perspectivas de desenvolvimento de países que já enfrentam uma piora nos termos de troca — disse John Denton, secretário geral da Câmara de Comércio Internacional.
Agitação
O executivo acrescentou que as mudanças podem causar uma cascata de rebaixamentos das classificações soberanas. Trump anunciou um conjunto abrangente de tarifas de até 50%, agitando os mercados financeiros e alimentando o temor de uma guerra comercial global.
As tarifas, que se somam aos impostos existentes, atingirão desde a baunilha de Madagascar, com 47%, até os têxteis do Sri Lanka, com 44%.
“É provável que o choque na confiança e nos fluxos de capital perdure e exija prêmios de risco mais altos”, adiantou o banco de investimentos JPMorgan, em nota aos clientes, após rebaixar sua posição em relação às moedas de mercados emergentes para “underweight” e prever um possível ponto de virada para a dívida de mercados emergentes.
Deterioração
No ano passado, os mercados emergentes começaram a reverter uma deterioração de uma década nas classificações de crédito após uma onda de inadimplência acelerada pelas consequências da covid-19 e que foi um dos principais fatores do aumento dos custos dos empréstimos.
O banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs afirmou que as tarifas reduzirão em 1 ponto percentual o crescimento do PIB da China, a segunda maior economia do mundo, o que pode ter um efeito indireto sobre os mercados emergentes em geral.
Modelo
Denton, da Câmara de Comércio Internacional, comparou o impacto à devastadora crise energética da década de 1970, que atingiu a economia global e abalou uma série de ativos de mercados emergentes. Alguns investidores disseram que as tarifas poderiam mudar fundamentalmente a forma como eles abordam as apostas nos mercados emergentes.
— Se as tarifas permanecerem como estão, definitivamente precisaremos repensar a história de crescimento estrutural e orientado para a exportação dos mercados emergentes. Se esse modelo estiver quebrado, então definitivamente teremos que reconsiderar como, basicamente, investir em emergentes para crescimento — resumiu Gary Tan, gerente de portfólio da Allspring Global Investments.