O Exército israelense tem operado em Jabalia e também nas cidades de Beit Lahiya e Beit Hanoun desde outubro. Suas forças mataram centenas de militantes nos três locais desde o início da operação, informou o Exército.
Por Redação, com Reuters e CartaCapital – de Gaza
Ataques militares israelenses mataram ao menos 14 palestinos em toda a Faixa de Gaza nesta terça-feira, a maioria deles na cidade de Beit Lahiya, no extremo norte, disseram os médicos. O Exército de Israel estabeleceu novas ordens de retirada no sul do enclave.
Os médicos disseram que oito pessoas foram mortas em uma série de ataques em Beit Lahiya, enquanto quatro foram mortas em outros locais da Cidade de Gaza.
Mais tarde, um ataque aéreo israelense matou duas pessoas e feriu outras em Jabalia, o maior dos oito campos de refugiados históricos de Gaza, no norte da Faixa de Gaza, segundo os médicos.
O Exército israelense tem operado em Jabalia e também nas cidades de Beit Lahiya e Beit Hanoun desde outubro. Suas forças mataram centenas de militantes nos três locais desde o início da operação, informou o Exército.
O Hamas, o grupo militante palestino que tem governado Gaza, e o braço armado da Jihad Islâmica disseram que seus combatentes mataram vários soldados israelenses em emboscadas durante o mesmo período.
Exército israelense
Os palestinos acusaram o Exército israelense de tentar expulsar a população do extremo norte de Gaza com retiradas forçadas e bombardeios para criar uma área de amortecimento. O Exército nega isso e diz que voltou para lá a fim de evitar que os combatentes do Hamas se reagrupem em área da qual já tinham sido retirados.
O Serviço Civil de Emergência da Palestina informou que suas operações em Jabalia, Beit Lahiya e Beit Hanoun foram interrompidas por quase quatro semanas devido aos ataques israelenses contra suas equipes e à escassez de combustível.
Nesta terça-feira, o governo disse que 13 dos 27 veículos no centro e sul da Faixa de Gaza também estavam fora de operação devido à falta de combustível. Segundo a organização, 88 membros do Serviço de Emergência Civil foram mortos, 304 feridos e 21 detidos por Israel desde o início da guerra.
Ex-ministro de Israel acusa governo de limpeza étnica em Gaza
O ex-ministro da Defesa de Israel, Moshe Yaalon, acusou o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de promover uma limpeza étnica no norte da Faixa de Gaza para anexação do território por meio de assentamentos judaicos. Em entrevista à mídia local de Israel, o ex-ministro de Netanyahu de 2013 a 2016 e antigo chefe do Estado-Maior de Israel sustentou que crimes de guerra estão sendo cometidos em Gaza.
– O caminho que estamos sendo arrastados atualmente é conquistar, anexar e realizar uma limpeza étnica. Olhe para o norte da Faixa, transfere-se famílias e estabelece-se um assentamento judaico. Não existe mais Beit Lahiya, não existe Beit Hanoun. Eles estão atualmente trabalhando em Jabalia e estão basicamente limpando a área dos árabes – afirmou Moshe ao canal israelense Democrat TV citando locais de Gaza.
A declaração de Moshe foi rebatida pelas autoridades de Tel Aviv. O partido do governo, o Likud, acusou o ex-ministro da Defesa de espalhar “mentiras caluniosas”, informou a Reuters. Na segunda-feira, o exército israelense se manifestou.
– As FDI (Forças de Defesa de Israel) atuam de acordo com o direito internacional e evacuam uma população de acordo com a necessidade operacional e temporariamente, para sua proteção. As FDI rejeitam as graves alegações de limpeza étnica na Faixa de Gaza, que prejudicam as FDI e os seus soldados – disse um porta-voz militar à mídia pública de Israel Kan News.
Em uma rede social, o ex-ministro Moshe rebateu às críticas às suas declarações. Ele lembrou que o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, defendeu reduzir pela metade a população de Gaza e que não via problema em deixar os 2 milhões de palestinos passar fome, sem ajuda humanitária. Moshe lembrou também que o atual chefe da Segurança Nacional de Israel, o ministro Itamar Bem Gvir, tem defendido a imigração de palestinos do local.
– Estes levarão os comandantes e soldados das FDI ao Tribunal Penal Internacional em Haia. Os comandantes e soldados são informados de que estão a desviar temporariamente a população para necessidades operacionais, enquanto os políticos falam de outros objetivos. É claro que quando os comandantes e soldados forem expostos aos processos judiciais em Haia, os políticos fugirão à responsabilidade – explicou em uma rede social.
Peso político
A fala de um político da centro-direita e general israelense denunciando limpeza étnica na Faixa de Gaza tem repercussões importantes tanto dentro quanto fora de Israel, avaliou Michel Gherman, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O especialista que estuda a sociedade israelense lembrou que Moshe Yaalon se afastou do governo de Netanyahu por discordar da política de assentamentos judaicos na Cisjordânia que, segundo Yaalon, impossibilita um acordo de paz com os palestinos.
Porém, Gherman avalia que a acusação de limpeza étnica é a novidade importante do discurso de Yaalon que pode ter efeitos na política interna e externa pelo peso político que ele tem.
– O primeiro efeito é uma possível radicalização da centro-direita no projeto de derrubada de Netanyahu e de radicalização nas manifestações contra o governo. Outro elemento é o uso jurídico e político que isso vai ter no processo internacional. Se uma pessoa que já foi ministro da Defesa, já foi deputado, é um general importante, assume que o que está havendo em Israel é genocídio na Faixa de Gaza, me parece que é uma fonte que pode e deve ser utilizada – analisou.
Entenda
Os palestinos vêm denunciando as ações de Israel em Gaza como genocídio e limpeza étnica. Organizações internacionais que prestam ajuda aos moradores de Gaza, incluindo a Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), denunciam que não são mais autorizadas a prestar assistência no norte do enclave palestino. Segundo a Organização não Governamental (ONG) Oxfam, Israel estão nas etapas finais de uma limpeza étnica no norte do território.
O governo israelense enfrenta uma acusação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia. Além disso, o Tribunal Penal Internacional (TPI), também em Haia, emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o então ministro da Defesa, Yoav Gallant, por supostos crimes de guerra e contra a humanidade em Gaza.
As autoridades israelenses negam as acusações argumentando que estão apenas lutando para eliminar o Hamas e evitar outro 7 de outubro de 2023, quando militantes do grupo islâmico palestino invadiram Israel causando a morte de cerca de 1,2 mil pessoas e capturando outras 200 como reféns. O Hamas alega que o ataque é uma resposta a ocupação, por Israel, dos territórios palestinos e do cerco de mais de 17 anos contra Gaza.