X-9 empolga o público, mas Nenê é preferida dos críticos em SP

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Publicado domingo, 6 de fevereiro de 2005 as 20:19, por: CdB

Os sertanejos da X-9 Paulistana foram os preferidos do público no sambódromo na madrugada de domingo, segundo e último dia de desfiles do Grupo Especial das Escolas de Samba de São Paulo. Alguns especialistas, no entanto, entenderam que a melhor apresentação da noite foi a da tradicional Nenê de Vila Matilde.

Em um desfile que empolgou as arquibancadas do Anhembi, a vice-campeã de 2004 homenageou a dupla Chitãozinho e Xororó. Mas o enredo, puxado para o ritmo country, pode não garantir o apoio à escola da zona norte da cidade por parte dos jurados mais críticos.

– O desfile da X-9 pareceu um filme norte-americano. Para os jurados que defendem um samba mais tradicional, isso pode ser um problema na hora do julgamento – disse o professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) Auresnede Stephan, especialista em design.

A X-9, terceira a cruzar a passarela, ainda contou com as presenças de Sandy e Júnior, filhos de Chitãozinho.

– O enredo da X-9 fez sucesso com o público por causa do tema de grande comunicabilidade. A apresentação do enredo pela escola saiu melhor do que a de outras, que não souberam simplificar e tornar sua história mais acessível ao público – disse o antropólogo Alberto Ikeda, que estuda o Carnaval há mais de 10 anos e é professor da Unesp.

Apesar da visibilidade de seus destaques, a X-9 teve outros méritos em sua atuação. O samba enredo foi cantado pela platéia, que respondia aos pedidos dos passistas da escola. Também chamou a atenção a comissão de frente, acompanhada por uma alegoria que trazia bonecas utilizadas em sua coreografia.

– Foi a maior emoção da minha vida – disse o cantor Chitãozinho à Reuters após o desfile da X-9. 

–  São quatro mil pessoas desfilando e a gente fica mais emocionado por ser homenageado.

Emoção tampouco faltou no desfile da Nenê de Vila Matilde, que apresentou um conjunto coeso, criatividade nas coreografias e um enredo bem explorado. Em uma auto-referência, a escola escolheu a águia e seu significado para diferentes povos como tema. As cores azul e branca marcaram as fantasias da escola da zona leste.

– A Nenê desfilou de maneira inteligente e fez bom uso das fantasias e do tema. Foi uma escola que teve unidade do começo ao fim e deve ficar entre as cinco primeiras – disse Stephan.

Segundo ele, apesar de as reações do público à X-9 terem parecido mais favoráveis, a escola da Vila Matilde também empolgou e ainda leva vantagem em termos técnicos.

A surpresa da noite ficou por conta da Unidos de Vila Maria, que falou sobre o circo em um desfile considerado irreverente e organizado.

– Além das cores, a bateria dessa escola soube fazer muito bem as viradas. Elas não vinham só no refrão e apareciam até no meio do samba-enredo – afirmou o percursionista Luis Carlos de Paula, que analisa desfiles no Carnaval paulistano há seis anos.

A concentração na temática circense foi bastante elogiada pela forma as fantasias da escola se apresentaram na avenida, com destaque para as centopéias de tecido compostas por 25 passistas.

– Se fosse pelas fantasias, já teria decidido que a melhor foi a Vila Maria – disse Stephan.

Camisa, orçamento apertado e morte

Não deve ser em 2005 que a Camisa Verde e Branco, nove vezes campeã do Carnaval paulistano, sairá do seu jejum de 12 anos sem título. Com alegorias que passavam pelo inventor do telefone, Alexander Graham Bell, e motoboys, a escola não conseguiu empolgar em sua passagem no sambódromo.

Para Ikeda:

– A Camisa quis falar sobre tudo e dificultou o entendimento daqueles que estavam nas arquibancadas.

Ainda passaram pela avenida as escolas Tom Maior, Barroca Zona Sul, Águia de Ouro e Leandro de Itaquera.

Segundo estimativas da Polícia Militar, 40 mil pessoas foram ao Anhembi para o último dia de desfiles em São Paulo, na noite de sábado,