Voluntariado praticado na frente do monitor

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Publicado domingo, 6 de julho de 2003 as 21:31, por: CdB

Num Brasil onde a tragédia social ganha proporção e visibilidade cada vez mais próximas do cotidiano da classe média, parece ganhar força a idéia de que a solução para contradições e conflitos urbanos está em ações de solidariedade integradas, em rede. Nada mais condizente, portanto, com os meios e propostas dos chamados
“promotores da cidadania” do que a proliferação de portais de voluntariado na rede internacional de computadores, a internet.

Voluntariado online, E-voluntários, cidadania virtual… Não importa o nome que se dê, as (boas) intenções são as mesmas: ação cidadã para o bem comum, promover a dignidade humana, construir um país mais justo, uma sociedade mais responsável e outras proposições nesse mesmo sentido.

O próprio site da Agência Brasil de Notícias tem como espécie de título oculto – aquele que só aparece para os mecanismos de busca ou na barra de navegação – os dizeres “Portal da Cidadania”. Mas outro portal, organizado pela chamada “sociedade civil”, ganha destaque entre aqueles que reivindicam a construção da cidadania através da internet: o Portal do Voluntário.

Lançado em 05 de dezembro do ano 2000, o Portal do Voluntário foi mencionado pelo Programa de Voluntários das Nações Unidas como sendo a única iniciativa desta categoria e abrangência que se tinha notícia no mundo.

A partir daí foi uma sucessão de reconhecimentos nacionais e internacionais. O Projeto ganhou o Prêmio Cidadania na Internet, concedido pelo Congresso Nacional de Informática Pública, em 2001; foi o único site brasileiro a estar entre os finalistas do Stockholm Challenge Award em 2001 e 2002, outorgado pela cidade de Estocolmo e pela União Européia; e foi um dos vencedores do 2º Prêmio Marketing Best Responsabilidade Social, em 2003.

O portal tem delineado seu plano de ação: “O Portal do Voluntário valoriza as ações de quem é voluntário e incentiva a participação daqueles que querem agir voluntariamente. Para isso, proporciona oportunidades de ação voluntária para vários tipos de públicos, em especial crianças, jovens, idosos e pessoas com deficiência”.

E apresenta seus números: “O Portal tem, atualmente, uma média de 260.000 page views por mês e cerca de 1100 relatos de voluntários em seu banco de experiências voluntárias (Seção Brava Gente)”.

“Voluntariado”, “cidadania”, “ação”, “cultura da paz”… O que significam, realmente, estas expressões tão em moda nos dias atuais, e qual a importância delas num país como o Brasil?

Quem responde em nome do Portal do Voluntariado é Chico Lins, colaborador do portal e consultor do Programa Voluntários, apontado pelo coordenador geral do site, Bruno Ayres, como “o maior especialista no Brasil em voluntariado”, e portanto o mais habilitado a falar sobre o assunto:

– A participação das pessoas, dos voluntários, tem origem na consciência de pertencimento a uma comunidade, a uma cidade, um país, fato que gera direitos e deveres, ou é motivada pela solidariedade, que pode ter os mais diferentes motivos: sentir-se bem fazendo coisas boas, ética religiosa, devolução de benefícios recebidos da sociedade e muitos outros. Antes havia uma dicotomia entre o público e o privado. Agora aumenta o consenso de que o interesse coletivo diz respeito a todos.

Chico lembra ainda que não é de hoje que se pratica ação voluntária no Brasil, e diz que a data fixada como o início do movimento do voluntariado no país é a da fundação da primeira Santa Casa de Misericórdia brasileira, em São Vicente (SP).

Mas o grande movimento de disseminação do voluntariado, ao contrário de universalizar direitos, não acaba por reduzi-los, na medida em que pode legitimar a transferência de responsabilidades de um estado constituído para os voluntários, que não tem compromissos legais? Chico acha que não:

– Voluntário não é mão de obra barata – diz ele – A ação de voluntários ou do Terceiro Setor não substitui o Estado, as empresas e outras instituições de sua