Volta da rivalidade entre Brasil e Argentina?

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Publicado sábado, 1 de dezembro de 2001 as 21:49, por: CdB

Apelando a uma tendência ao nacionalismo argentina, que esteve bastante dormente nos últimos anos, o ministro da economia argentino, Domingo Cavallo, culpou o Brasil por muitas das desgraças de seu país, que incluem uma incapacidade de pagar aos funcionários do governo e uma dívida externa de mais de $130 bilhões

SÃO PAULO – Com a Argentina cambaleando à beira da falência e o Brasil com medo de ser “contaminado” pela crise econômica no vizinho, as relações entre esses antigos rivais, que se tornaram aliados e parceiros nos últimos anos, deram uma meia-volta repentina para o pior.

Apelando a uma tendência ao nacionalismo argentina, que esteve bastante dormente nos últimos anos, o ministro da economia argentino, Domingo Cavallo, culpou o Brasil por muitas das desgraças de seu país, que incluem uma incapacidade de pagar aos funcionários do governo e uma dívida externa de mais de $130 bilhões.

Aguilhoado por críticas que considera infundadas, o Brasil reagiu se distanciando da Argentina e enfatizando sua própria saúde econômica com líderes e credores estrangeiros.

A guerra de palavras levantou novas questões sobre a viabilidade do Mercado Comum Sul-americano, ou Mercosul, que tem uma produção combinada de mais de US$1trilhaões e é o terceiro maior grupo comercial do mundo. Argentina e Brasil são fundadores do corpo, que inclui também Paraguai e Uruguai como membros integrais e Bolívia e Chile como membros associados.

“Enquanto os dois países estavam em crescimento e o clima mundial era bom, o Mercosul funcionou bem”, disse Riordan Roett, diretor do programa Hemisfério Ocidental na Johns Hopkins School of Advanced International Studies. “Mas quando começou a recessão global, e especialmente quando Cavallo voltou, isso teve que se render ao fato de que as bases históricas e culturais para a verdadeira integração não estão aqui”.

Desde que Cavallo voltou ao poder, em março, atacou repetidas vezes as políticas do que ele descreveu recentemente como “este elefante chamado Brasil”. O que sustenta as críticas de Cardoso é a preocupação de que o Brasil seja atraído para a crise argentina. Apesar de a maioria do comércio brasileiro ser com a Europa e com os EUA o valor da moeda brasileira caiu mais de 35% desde o começo do ano em parte porque os investidores temem que o colapso da Argentina tenha efeitos devastadores aqui.

Apesar dos deslizes atuais, analistas em ambos os países dizem que as fundamentações políticas do relacionamento permanecem sólidas. Não há chances, dizem eles, dos dois países voltarem a ter uma relação de adversários.

“A escolha de se integrar com o Brasil foi a decisão mais importante da Argentina nos anos 1980s e 1990s, e nossa relação com o Brasil continua estrategicamente vital”, disse Diego Guelar, ex-embaixador argentino os EUA. “Mas a manifestação da crise de identidade pela qual estamos passando é que algumas pessoas estão tentando se iludir com relação a isso”.