Vencedor do Nobel diz que África deve denunciar abusos

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado sexta-feira, 2 de julho de 2004 as 10:02, por: CdB

Wole Soyinka, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, criticou nesta sexta-feira os governos da África por não denunciarem a atual crise humanitária em Darfur (Sudão) e por se unirem quando um deles é criticado pela comunidade internacional.

“O silêncio dos governos africanos a respeito dessa questão é inaceitável”, disse Soyinka, em uma entrevista coletiva na qual falava sobre a falta de liberdade de imprensa no continente. “Esse negócio de solidariedade com a criminalidade é uma contradição. A União Africana (UA), os países da África e os meios de comunicação precisam denunciar o que está acontecendo no Sudão hoje. Não há nenhuma outra palavra para aquilo que não genocídio.”

Autoridades norte-americanas e grupos de defesa dos direitos humanos acusam o governo sudanês de armar e patrocinar milícias árabes conhecidas como Janjaweed e encarregadas de atacar vilarejos de africanos negros na região de Darfur em uma campanha de limpeza étnica.
O governo sudanês nega as acusações e diz que as milícias são ilegais.

A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que 2 milhões de pessoas foram afetadas pelos conflitos, provocando uma das piores crises humanitárias do mundo. “Assim, não podemos aceitar o silêncio da solidariedade quando há um crime evidente sendo cometido para cercear as aspirações e o salvamento de pessoas. É aqui que os meios de comunicação da África têm um importante papel a cumprir”, afirmou Soyinka.

Soyinka, que se transformou no primeiro africano a receber um Nobel, em 1986, ficou dois anos preso na Nigéria devido a suas atividades políticas e participa de campanhas de defesa dos direitos humanos no continente desde os anos 60.