Tráfico de animais e plantas causa danos ao Equador

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Publicado quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004 as 01:55, por: CdB

As espécies exóticas de orquídeas, papagaios e macacos encontradas no Equador fizeram desse pequeno e montanhoso país um local famoso entre defensores do meio ambiente e amantes do turismo ecológico. Mas a natureza exuberante do país também o colocou na lista de locais aplacados pelo comércio ilegal de animais e plantas.

Em 2003, as autoridades apreenderam 1.521 animais e plantas no Equador, segundo membros do Green Surveillance, um grupo de controle formado por entidades de defesa do meio ambiente e pelo governo. Mais de 25 mil barbatanas de tubarão e de pepinos do mar, considerados um afrodisíaco e uma iguaria gastronômica na Ásia, foram tirados das ilhas Galápagos, território equatoriano.

– Esse é um pequeno país, com boas estradas, poucos mecanismos de controle, muita corrupção e uma tremenda diversidade de vida selvagem. É, portanto, um país que chama a atenção dos traficantes – disse Bernado Ortiz, diretor de um programa internacional de monitoramento chamado Tráfico na América do Sul.

Na América Latina, países maiores como o Brasil, a Colômbia e o Peru deparam-se com um volume mais significativo de tráfico de animais e vegetais do que o Equador. Mas o tamanho desse último faz da atividade algo muito mais impactante, segundo os ecologistas.

– É o tamanho do país que o torna tão vulnerável. O impacto do tráfico acaba com as populações (de animais e vegetais) de forma muito mais rápida do que no Brasil ou na Colômbia, que são maiores – afirmou Ortiz.

Um dos maiores problemas enfrentados pelo Equador é o tráfico ilegal de barbatanas de tubarão nas ilhas Galápagos, localizadas a mil quilômetros da costa, no Oceano Pacífico. As ilhas ficaram mundialmente conhecidas por abrigarem espécies únicas de animais e vegetais.
Em 2003, as autoridades apreenderam 5.343 barbatanas, tiradas de, estima-se, 1.235 tubarões, na região das ilhas, e 23.846 pepinos do mar, segundo o Parque Nacional Galápagos. Os pepinos do mar são criaturas espinhentas semelhantes à estrela-do-mar. Os pepinos vivem nas rochas oceânicas e ajudam a reciclar os nutrientes, devolvendo-os à cadeia alimentar.

No leste da Amazônia e nos Andes, entre as espécies mais ameaçadas há macacos, papagaios, cobras e orquídeas. Quase 3 mil tipos de orquídeas podem ser encontrados no Equador e 43% deles são originários dali. Os colecionadores dispõem-se a pagar até US$ 10 mil por uma flor que está ameaçada de extinção e entre US$ 300 e US$ 500 por uma variedade mais comum.

– Os preços pagos no exterior são impressionantes: US$ 500, US$ 2 mil, US$ 5 mil. Aqui, os compradores pagam apenas US$ 15 ou US$ 20, o que faz desse um grande negócio – afirmou Miguel Vasquez, do grupo Ecociencia. Quase 94 por cento das plantas levadas para fora do Equador ilegalmente são orquídeas.

Os ambientalistas dizem que o país precisa de uma lei para regulamentar o transporte de espécies a fim de diminuir o tráfico. Muitos argumentam que a conservação não traria benefícios apenas para a natureza, mas poderia se traduzir em lucros.

O Equador poderia criar uma lei para determinar que tipo de comércio deve ser permitido e quais espécies poderiam ser vendidas, excluindo obviamente as quase 200 atualmente ameaçadas, dizem defensores do meio ambiente.

O projeto também eliminaria a morte desnecessária de muitos animais e plantas. Cerca de 8% das espécies traficadas acabam morrendo antes de chegar a seu destino final.

As autoridades esperam que os esforços de conservação forneçam ao Equador uma alternativa viável de investimento econômico, por meio do ecoturismo e da pesquisa científica. Atualmente, o país depende de suas exportações de petróleo.

– Essa é a esperança do Equador para o futuro – afirmou Sergio Lasso, do Ministério do Meio Ambiente do país.

– Quando acabar o petróleo, tudo o que nos restará será nossa biodiversidade – disse.