Trabalho escravo na Alemanha atinge 15 mil pessoas

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Publicado terça-feira, 3 de janeiro de 2006 as 13:42, por: CdB

Estudo revela que o corte de carnes e a prostituição estão entre as atividades que mais contribuem para o crescimento do trabalho forçado no país. A maioria dos alemães imagina que o trabalho forçado é um problema restrito aos países em desenvolvimento e se recusa a entender que isso é uma realidade dentro de sua própria nação. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) denominado Tráfico humano e exploração na Alemanha mostrou que 360 mil dos 12,3 milhões de pessoas mundialmente categorizadas como ‘escravos modernos’ vivem em países industrializados, e estima-se que 15 mil delas estão em solo germânico – um país que não tem um salário mínimo definido.

‘Escravo moderno’

“O termo ‘trabalho forçado’ se refere a uma situação na qual a pessoa é explorada contra sua vontade e forçada a trabalhar sob condições que ela não aceitaria voluntariamente”, explica Norbert Cyrus, autor do estudo. Isto descreve a situação de vítimas pobres e sem poder que são intimidadas e algumas vezes até violentadas. Nos piores casos dentro da Alemanha, imigrantes são hospedados em quartos simples e sem higiene que abrigam até 20 pessoas, e trabalham 80 horas por semana por salários miseráveis que eles esperam meses para receber – quando recebem.

Globalmente, o rendimento com tal atividade chega a 25 bilhões de euros por ano, sendo que 50% são embolsados pelos países ocidentais industrializados. Na Alemanha, dois terços desta mão-de-obra são femininas. Aproximadamente 60% do trabalho forçado estão relacionados à indústria do sexo com mulheres de países como Colômbia, Gana, Tailândia e Ucrânia, forçadas a se prostituir depois de chegar ao país iludidas por falsas promessas.

Ajuda às vítimas

De acordo com o Centro de Coordenação Contra o Tráfico Feminino (KOK), em Potsdam, uma medida que pode solucionar o problema é aumentar a consciência dos policiais para que os casos de escravidão possam ser facilmente identificados.

– Durante uma batida num bordel, os policiais precisam perceber que algumas das mulheres não estão ali voluntariamente, mas em alguns casos isso é muito difícil. Os policiais precisam se tornar sensíveis a estas situações por meio de treinamentos adicionais. Aí estas mulheres podem ser levadas a centros de aconselhamento que podem dar a elas apoio jurídico – diz o diretor do KOK.

Medo de represálias e, na pior das hipóteses, deportação, entretanto, são fatores que impedem as vítimas de buscar ajuda.

– Várias dessas mulheres estão traumatizadas, e centros de ajuda podem oferecer a elas proteção e apoio social. Sozinhas, elas não conseguem ajuda – não falam o idioma e não têm condições de fazer contato com o mundo lá fora – argumenta Tanis, do KOK.

Trabalho como mercadoria

O problema na verdade é que – como as prostitutas estrangeiras – nem todas as pessoas que trabalham em condições que as caracterizam como ‘escravos modernos’ sentem a necessidade de fugir ou ir embora.

– Eles nem se sentem como vítimas. Pensam que estão ganhando dinheiro para guardar ou mandar para casa – afirma Tanis.

Outras indústrias também fazem parte do problema, como o corte de carnes, a construção civil, a agricultura, a gastronomia e as atividades no ramo têxtil. Agências de recrutamento no Leste Europeu, por exemplo, cadastram trabalhadores para ganhar na Alemanha mais do que recebem em seus países. Mas o que se anuncia corresponde muito pouco à realidade que as pessoas encontram. Norbert Cyrus explica que muitos se submetem à situação motivados pela crença de que qualquer emprego é melhor do que nenhum emprego.

– A esperança de crescimento e mudança os motiva. Outra razão para que estas pessoas aceitem condições desumanas de trabalho é porque acreditam não ter outra alternativa – diz.

Globalização

Na Alemanha, o mercado do corte de carnes, em particular, escancara a es