Trabalhador rural conta como foi expulso da Terra do Meio

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Publicado quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005 as 17:38, por: CdB

Trabalhadores rurais e ribeirinhos do Pará sofrem com os abusos dos fazendeiros, grileiros de terras e madeireiros. Os relatos dos trabalhadores do estado incluem ameaças de morte, maus tratos e violência.

O trabalhador rural Herculano Costa Silva foi expulso há três anos da casa onde morava na Terra do Meio – região localizada entre os rios Xingu e Tapajós. Cercado por homens armados com rifles e espingardas, ele e outras seis pessoas tiveram que abandonar tudo o que tinham para que não fossem mortos.

– Eles ameaçavam a gente com as armas e, enquanto a gente andava, eles diziam que não podíamos voltar para lá – relata.

Para ele, a vida na “grande” Altamira é diferente daquela que levava na floresta.

– Lá, eu não ficava sem trabalho. Para sobreviver aqui em Altamira é preciso ter estudo e eu só sei assinar meu nome – conta Herculano.

Sem emprego e com família, o trabalhador conta, com ar de saudade, da época em que vivia na mata e a comida era farta.

– Lá a gente faz a nossa plantação e sobrevive com os recursos da floresta. Aqui a gente fica dias sem ter o que comer – diz.

Em Altamira há seis meses, Francisco Chagas Dias não vê a hora de voltar para o seringal Belo Horizonte, na Terra do Meio, de onde foi expulso pela empresa C.R. Almeida, empresa investigada por grilagem de terra.

– Eles não queriam mais ninguém morando lá. Aí mandaram todo mundo embora.

Sem casa e com sete bocas para alimentar, como ele mesmo lembra, Francisco ressalta que “na cidade não dá para ficar”. Quando consegue trabalho, ganha uma diária de R$ 15, sendo que precisa de no mínimo R$ 25 para que todos em sua casa tenham o que comer.

– É difícil arrumar trabalho na cidade. Estou numa casinha abandonada com minha família e comida quase nunca tem.

Como Herculano e Francisco, muitos outros agricultores passam por necessidades e acreditam que as reservas extrativistas são a solução para os problemas.

– Lá a gente vai ter um pedaço de terra para produzir e ninguém vai poder tirar a gente de lá – lembra Francisco.

Ainda no primeiro semestre deste ano devem ser criadas três reservas extrativistas e uma unidade de conservação e proteção integral, com estação ecológica e parque na Terra do Meio. Os recentes assassinatos no Pará estimularam e aceleraram o processo de criação dessas reservas.

As reservas extrativistas são unidades de conservação criadas a partir do pedido de comunidades tradicionais, em terras pertencentes à União. Nessas terras, a permanência de madeireiros e agricultores de grande porte não é permitida, que garante maior “tranqüilidade” para os agricultores e ribeirinhos que passam a ter direito de viver e explorar a área, além de transmitir a concessão da terra para os dependentes por tempo indefinido.