Tarantino preside o júri do Festival de Cannes

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Publicado segunda-feira, 10 de maio de 2004 as 13:50, por: CdB

Doze anos depois de ter surpreendido Cannes com seu primeiro filme, “Cães de Aluguel”, e dez anos depois da Palma de Ouro por “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, o diretor americano Quentin Tarantino, ‘enfant terrible’ do cinema americano, volta ao Festival de Cannes para desempenhar o prestigioso papel de presidente do júri.

Cinéfilo apaixonado que cita tanto Jean-Luc Godard quanto diretores de séries B totalmente esquecidos, Tarantino impôs seu estilo extremamente pessoal, impregnado de humor negro e construído com referências múltiplas.


Referências que o cineasta tira de filmes da sua infância, do cinema negro militante dos anos 70, dos western spaghetti, dos filmes de gangster e artes marciais, mas também do romance noir e de revistas em quadrinho.


Nascido em 27 de março de 1963 em Knoxville (Tennessee), Tarantino costuma contar nas entrevistas sua adolescência influenciada pelas muitas mudanças nos subúrbios de Los Anfeles e o comparecimento quase compulsivo aos cinemas para ver Jacky Chan, os irmãos Shaw, Charles Bronson, Clint Eastwood e os ‘yakusas’ de Kinji Fukasaku.


Um cinema mestiço que pode ser visto em “Kill Bill”, seu quarto filme, cuja segunda parte é apresentada em seção hors-concours em Cannes.


Há os que o critiquem pela violência onipresente de seus filmes, mas o cineasta consegue unanimidade quando se trata de reconhecer o virtuosismo de seu trabalho e seus diálogos incisivos, alguns deles antológicos.


A narrativa em flash-back e em capítulos, a trilha sonora composta por grandes temas da música americana e os rompantes paródicos também compõem o estilo “tarantinesco”.


Retrato sem concessões dos pequenos mafiosos de Los Angeles em “Cães de Aluguel” (1992), violência e destinos cruzados de gangsters e marginais em “Pulp fiction” (1994), pintura sensível de uma mulher madura que toma seu destino com as mãos em “Jackie Brown” (1997), o universo de Tarantino está povoado de personagens multifacetados e comoventes: o assassino de aluguel que faz citações bíblicas, a mãe de família especialista em lutas ou a viciada ninfomaníaca.


Harvey Keitel, John Travolta – cuja carreira deu uma reviravolta graças a Tarantino -, Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robert de Niro, além de sua atriz favorita, Uma Thurman, estão entre os vários astros que atuaram sob sua batuta e fizeram uma aposta acertada.


Seus dois primeiros roteiros, cuja venda lhe permitiu financiar “Cães de Aluguel”, foram adaptados com sucesso por Tony Scott (“Amor à Queima-roupa”) e Oliver Stone (“Assassinos por Natureza”).


Em Cannes, o cineasta, que se autodenomina “um animador de cineclube frustrado”, poderá exercer durante doze dias sua atividade favorita de cinéfilo contumaz.