Sugestão de Lula é uma boa idéia, diz o NYT

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Publicado quinta-feira, 8 de dezembro de 2005 as 13:14, por: CdB

Em editorial, o diário norte-americano, The New York Times, desta quarta-feira, afirma que a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de realizar um encontro de líderes para fazer avançar a Rodada Doha de negociações “pode não ser uma má idéia, porque, no ritmo em que as coisas vão, o encontro de Hong Kong será um fracasso”.

Lula apresentou a proposta nesta quarta-feira ao seu presidente norte-americano, George W. Bush. Segundo Lula, os negociadores dos países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) já foram o mais longe que podiam na negociações e o impasse agora tem de ser superado pelos próprios presidentes e primeiros-ministros. É “triste” que as negociações da rodada tenham chegado a um impasse, “porque este é o ano em que os países industrializados haviam prometido fazer algo para tornar a pobreza história”, diz o editorial.

“Liberalizar o comércio agrícola ajuda os países pobres; liberalizar o comércio de bens manufaturados e de serviços ajuda os países ricos. É por isso que, nos últimos 50 anos o sistema comercial mundial tem feito muito disto –ajudar os países ricos– sem fazer muito para ajudar os países mais pobres”, diz o jornal.

Semana que vem terá início a reunião ministerial da OMC em Hong Kong. O objetivo do encontro dos ministros e comissários das áreas comerciais dos países-membros da organização é concluir as negociações da Rodada Doha, lançada em 2001 na cidade de Doha (capital do Qatar). As negociações para liberalização do comércio mundial entraram em colapso em 2003, após a reunião de Cancún (México), devido, já na época, a um impasse sobre subsídios agrícolas.

A reunião deveria ter sido concluída no ano passado e os envolvidos nas negociações já consideram que não será possível chegar a um acordo na reunião da próxima semana. O “NYT” diz ser “patético” ver que o impasse tem sido mantido pela “intransigência” da União Européia na questão agrícola, tendo se tornado refém da recusa da França em cortar os subsídios a seus fazendeiros.

“O mundo desenvolvido destina quase US$ 1 bilhão por dia em subsídios a seus fazendeiros (…) Isso derruba os preços e deixa os fazendeiros em países pobres incapazes de competir com produtos subsidiados”, acrescenta o diário americano.

“O sistema europeu é particularmente odioso: os subsídios agrícolas nos EUA são apenas um terço dos da Europa. Mais que isso, as tarifas sobre produtos agrícolas são obscenamente altas, em mais uma tentativa de manter os produtos agrícolas dos países pobres fora dos supermercados de Paris, Frankfurt e mesmo Chicago”, critica o “NYT”.

O presidente Lula já havia proposto um encontro para o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, mas desencontros de agendas impossibilitaram a reunião. O presidente Bush, no entanto, recebeu bem a idéia do presidente Lula, segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que acompanhou a conversa telefônica de ontem entre Lula e Bush.

Mandelson

Para o comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson, o Brasil e os EUA têm feito exigências de níveis “inaceitáveis” no campo agrícola. Ele defende a posição européia dizendo que as ambições brasileiras e americanas para a área agrícola geraria uma “onda de redução tarifária da amplitude exigida seria um desastre” para os mercados produtores dos países da África, do Caribe e da região do Pacífico, que dependem do acesso privilegiado aos mercados dos países desenvolvidos.

“Essa é uma razão pela qual os atuais níveis de ambição de americanos e brasileiros de cortes de tarifas agrícolas são inaceitáveis”, disse Mandelson no início de novembro ao diário financeiro americano The Wall Street Journal.