Situação crítica da Varig põem fusão em risco

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Publicado segunda-feira, 7 de abril de 2003 as 10:14, por: CdB

A negociação da fusão entre Varig e TAM entra em uma de suas fases mais delicadas. Na semana passada, os arquitetos da fusão passaram ao governo a função de bombeiro, para controlar o incêndio que atinge a situação financeira da Varig e ameaça a reestruturação societária. Há, ainda, outro problema político difícil para o governo: as demissões, imprescindíveis no desenho da nova empresa.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de reunir-se com sindicalistas, indicou aos ministros que não quer demissões em massa. A TAM já foi obrigada a rever 128 das 470 dispensas programadas.

Um dos envolvidos nas negociações entre Varig e TAM comenta que será necessário um ” ajuste fino ” : sem as demissões necessárias, a fusão pode estar em risco; mas se houver ” demissões violentas ” , a aproximação entre as duas companhias pode simplesmente inviabilizar-se. O problema é que, das cerca de 48 cidades atendidas pela TAM só cinco não são servidas também pela Varig. Estima-se que podem ficar sem emprego com a fusão entre 6 mil a 8 mil pessoas — número praticamente igual ao atual contingente da TAM e cerca de 42% da folha da Varig.

E não é só o número que torna o assunto tão delicado. A maior parte das demissões deve ocorrer na Varig. Será uma dura queda-de-braço: em cerca de dez dias, ficam prontas as auditorias contábil e jurídica, sob responsabilidade do Banco Fator. Começa aí a se decidir quem mandará em quem na nova holding.

Com patrimônio líquido negativo de R$ 2,5 bilhões, segundo último número divulgado, referente ao terceiro trimestre de 2002, a Varig está em desvantagem. Fornecedores da empresa, como a Boeing, já perceberam que a TAM poderá se sair melhor caso ocorra a fusão e procuraram a companhia (que tem aeronaves novas da Airbus) para prospectar negócios futuros.

Como argumento em defesa de maior fatia para os acionistas da companhia na futura empresa pós-fusão, dirigentes da Varig, em contatos com o governo, lembram que também a TAM teve pesados prejuízos no ano passado (R$ 900 milhões em prejuízos operacionais, R$ 605,7 milhões em prejuízos contábeis).

O plano de negócios ( ” business plan ” ) da holding que surgirá da fusão deve estar pronto no início de maio, e poderá mostrar por que a TAM decidiu unir-se a uma empresa com alto endividamento, em uma estratégia que serviu para obrigar a Varig a abrir sua contabilidade.

Analistas que acompanham as negociações lembram que a TAM também começou a sentir o desaquecimento do setor, e não se via em condições de competir com uma empresa que descumpria obrigações com credores e governo.

A decisão de evitar soluções individuais levou o governo a buscar novas regras para o setor. Embora o ministro da Defesa, José Viegas, diga que os projetos sobre o assunto, no Congresso, servirão de base às discussões, o Valor apurou, que o governo abandonou, pelo menos por enquanto, a idéia da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

O comitê dedicado a discutir o ” marco regulatório ” para a aviação civil pretende usar instrumentos já disponíveis pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), para fixar as nova regras sobre lotes, concessão de linhas e importação de aviões. O governo avalia que não há tempo para aprovar uma nova legislação no Congresso.

As decisões se basearão do fato de que a aviação civil é uma concessão pública, diz uma fonte do setor privado. As medidas podem atingir a Gol. Na Varig e na TAM são constantes as críticas à novata, autorizada a operar na região de maior densidade demográfica do país, segundo as concorrentes, sem a exigência de servir a regiões de grande extensão e baixa densidade, como o Norte.

O outro comitê criado pelo governo, já batizado de ” comitê bombeiro ” , inclui a distribuidora de combustíveis BR, Infraero e Banco do Brasil. Segundo o Valor apurou, a situação financeira e operacional da Varig é crítica a ponto de comprometer a fusão; e os arquitetos da reestruturação societária decidiram pedir ” uma folga ” ao gov