Sharon desautoriza assessor e confirma apoio à paz

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado quarta-feira, 6 de outubro de 2004 as 10:13, por: CdB

O primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, reafirmou nesta quarta-feira seu compromisso com um plano de paz no Oriente Médio, aparentemente tentando conter os estragos causados por comentários de um assessor que descartou em uma entrevista o plano apoiado pelos EUA.

O assessor Dov Weisglass disse que o plano de retirada de Gaza do premiê e a manutenção de partes da Cisjordânia por Israel impediria a criação de um Estado palestino e congelaria o processo de paz.

As declarações dele, dadas enquanto Israel realiza uma grande ofensiva na Faixa de Gaza, surpreenderam diplomatas norte-americanos. Washington expressa há muito tempo apoio ao plano conhecido como “mapa do caminho”, que prevê a criação de um Estado palestino.

Apesar de o plano estar paralisado há meses pela violência na região, Sharon declarou que ele é “o único que pode permitir avanços rumo a um acordo político duradouro”.

– A culpa pelo congelamento diplomático está nos ombros dos palestinos, que se recusam a cumprir seus compromissos e continuam a aderir ao terror, violência e incitamento – disse Sharon em um comunicado.

Os palestinos, por seu lado, culpam Israel pelo impasse. Eles afirmam que o plano de Sharon para retirada de assentamentos de Gaza é uma desculpa para anexar grandes partes da Cisjordânia, o que inviabilizaria um Estado seu. 

Os comentários do assessor devem ajudar Sharon a conquistar apoio entre os extremistas de direita para seu plano de “separação” dos palestinos.

– A importância de nosso plano de separação é o congelamento do processo de paz. Ele fornecerá o formaldeído necessário a fim de que não haja mais processo político com os palestinos – afirmou Weisglass em uma entrevista publicada pelo jornal Haarezt nesta quarta-feira.

– Se congelarmos o processo, impediremos a criação de um Estado palestino. Na prática, esse pacote todo chamado Estado palestino, com todas as suas consequências, foi retirado indefinidamente de nossa agenda – disse o assessor.

Líderes palestinos condenaram as declarações.

– Acredito que ele revelou as verdadeiras intenções de Sharon. Dissemos ao quarteto de mediadores (EUA, União Européia, Organização das Nações Unidas e Rússia), oito meses atrás, que o plano de retirada da Faixa de Gaza minaria o mapa do caminho – disse o ministro palestino Saeb Erekat.

Segundo Weisglass, no futuro próximo, não haverá negociações sobre questões centrais como o destino dos refugiados palestinos, a fixação das fronteiras e o status de Jerusalém.

– E tudo com a autoridade e a permissão, tudo com uma benção presidencial – disse.

O presidente dos EUA, George W. Bush, aprovou em abril o plano de Sharon de desmantelar as pequenas colônias judaicas na Faixa de Gaza em troca de manter permanentemente as grandes colônias da Cisjordânia.

Há uma semana, as Forças Armadas de Israel realizam uma ofensiva no norte da Faixa de Gaza, iniciada depois de militantes terem disparado vários mísseis de fabricação caseira contra áreas israelenses, matando duas crianças. Um total de 72 palestinos foi morto na ofensiva, 30 deles civis, disseram funcionários de hospitais. Três israelenses, entre os quais uma mulher, também foram mortos.