Sem ajuda prometida, Virgin Orbit abre falência após alto prejuízo

Arquivado em: Comércio, Destaque do Dia, Indústria, Serviços, Últimas Notícias
Publicado sábado, 8 de abril de 2023 as 12:52, por: CdB

Documentos relacionados à operação e a trocas de e-mail acessadas pela agência inglesa de notícias Reuters; além do relato de três pessoas com conhecimento das discussões, davam conta da notícia positiva para a organização prestes a fechar as portas, por falta de perspectivas.

Por Redação, com Reuters – de Los Angeles (LA-CA)

À beira da falência, a companhia Virgin Orbit de propriedade do empresário Richard Branson estava prestes a receber o aporte de US$ 200 milhões, necessário para manter operante a companhia aeroespacial. Um investidor texano, praticamente desconhecido, ofereceu na quinta-feira o resgate ao presidente-executivo da Virgin Orbit, Dan Hart, que prontamente garantiu o apoio do conselho para um acordo preliminar com o empresário de 33 anos Matthew Brown.

Virgin Orbit
Os equipamentos da Virgin Orbit permanecem estacionados, sem contratos para voar

Documentos relacionados à operação e a trocas de e-mail acessadas pela agência inglesa de notícias Reuters; além do relato de três pessoas com conhecimento das discussões, davam conta da notícia positiva para a organização prestes a fechar as portas, por falta de perspectivas.

“Tivemos nossa reunião do conselho esta manhã com acordo para seguir em frente, então agora tenho a adesão de que preciso”, disse Hart a Brown em um e-mail de 21 de março acessado pela Reuters. Em um outro e-mail, Hart oferece uma nota esperançosa aos 750 trabalhadores da Virgin Orbit, a maioria dos quais fora dispensada quando a empresa interrompeu seus negócios no início de março. No e-mail, Hart diz que a empresa com sede em Long Beach (CA-EUA), iniciaria uma “retomarada incremental” das operações.

Veterano

O potencial acordo com Brown, no entanto, se desfez em menos de uma semana. A Virgin Orbit interrompeu o contato e ameaça tomar medidas legais contra ele, caso venha a revelar detalhes confidenciais sobre o potencial investimento, segundo o registro de desistência revisado pela Reuters, juntamente com as declarações das fontes, que se recusaram a ser nomeadas devido à sensibilidade do assunto.

Os detalhes não relatados anteriormente de um acordo que nunca foi aconteceu representam o fracasso na tentativa de salvamento da fracassada Virgin Orbit, que ruma inexoravelmente para a falência. A empresa, já avaliada em US$ 3,8 bilhões no final de 2022, contou com os militares dos EUA entre seus maiores clientes. Com a maior parte dos contratos cancelados, a empresa entrou nesta semana com pedido para o Capítulo 11 — a Lei de Falências dos EUA.

Hart, um ex-veterano da Boeing, não respondeu a um pedido da agência para comentar sobre as conversas com Brown. O Virgin Group, que possui 75% da Virgin Orbit, também se recusou a comentar sobre o assunto. O grupo está fornecendo financiamento à Virgin Orbit enquanto a empresa de lançamento de satélites busca um comprador, em meio à falência.

Confidencialidade

O aviso legal emitido pela Virgin Orbit ocorreu em resposta a uma entrevista de Brown ao canal norte-americano de notícias CNBC, em 23 de março, quando disse que estava em “discussões finais” para fechar um investimento de US$ 200 milhões na companhia, no prazo de 24 horas. A carta de um advogado da empresa disse que Brown revelou a natureza das negociações e violou um acordo de confidencialidade.

O preço das ações da Virgin Orbit saltou mais de 60% no dia seguinte à aparição de Brown na CNBC. A entrevista na TV seguiu um relatório da Reuters o qual dizia que Brown estava se aproximando de um acordo para um investimento proposto na empresa, citando a folha de termos assinada por Hart e Brown e a data de fechamento planejada de 24 de março.

A Virgin Orbit entrou com pedido de falência na terça-feira. Nunca se recuperou de uma missão fracassada de janeiro que enviou uma carga útil de satélites para o oceano. Foi uma queda difícil para uma empresa que o bilionário britânico Branson separou de sua organização de turismo espacial, a Virgin Galactic, em 2017 com a esperança de desafiar a SpaceX de Elon Musk no transporte de cargas comerciais para a órbita da Terra.

Evidências

Quando a empresa cortou o contato com o investidor, em 25 de março, descobriu problemas com a credibilidade de Brown, disseram as três pessoas ouvidas pela agência britânica de notícias. Um disse que os executivos encontraram evidências que contradiziam os detalhes que Brown havia fornecido sobre seus antecedentes.

Em entrevistas com a Reuters na semana passada, Brown rejeitou as acusações de que havia rompido as condições do acordo. Ele acrescentou que a Virgin Orbit não havia fornecido informações suficientes para que se sentisse confortável em transferir os US$ 200 milhões para uma conta de custódia, conforme acordado na folha de termos. Brown não especificou as informações que havia procurado e a Reuters não conseguiu verificar independentemente sua afirmação.

— Eu absolutamente, 100%, tinha o dinheiro garantiu Brown.

Sem registro

A agência Reuters, no entanto, encontrou aparentes discrepâncias em vários elementos-chave das afirmações de Brown à CNBC e no LinkedIn sobre as empresas onde ele diz ter trabalhado; seus investimentos e associados.

Brown disse à Reuters que não tinha ações da Virgin Orbit e não lucrou com a divulgação de sua oferta e do salto de curta duração no preço das ações que se seguiu. A declaração de falência da empresa, emitida na terça-feira, mostrava que um “Matthew Brown” detinha 238 ações no momento da declaração. Essas ações valiam somente US$ 48 na quinta-feira. Brown, no entanto, alega que o investidor listado era outro Matthew Brown.

Ainda na pesquisa sobre o alegado investidor, a Reuters não conseguiu encontrar qualquer registro corporativo para duas empresas onde Brown cita, no LinkedIn, que havia sido consultor ou parceiro: Hogshead Spouter, com sede em Hong Kong, e Kona Private Capital, com sede no Havaí. Brown afirmou à agência que trabalhou através de entidades offshore, sem fornecer detalhes. Ele disse que não sabia onde as empresas Kona e Hogshead estavam registradas.

Abaixo do radar

Em sua entrevista à CNBC, Brown disse ainda que havia trabalhado com a OpenAI. Um porta-voz da OpenAI, porém, garante que nunca houve qualquer vínculo com ele. Questionado sobre isso, Brown disse à Reuters que estruturou negócios para proteger a confidencialidade dos investidores com uma preferência por “permanecer abaixo do radar”.

Na época de sua abordagem à Virgin Orbit, a página do LinkedIn de Brown incluía um endosso de Dan McDermott, identificado como ex-colega da Hogshead Spouter e como ex-funcionário da Autoridade Monetária de Hong Kong. O Banco Central chinês assinala não haver registro de ter empregado McDermott. Contatado pelo LinkedIn, McDermott recusou-se a responder a perguntas sobre seu histórico.

Brown afirmou também que trabalhou para a Woods Family Office, uma gestora de fortunas com sede em Houston (TX-EUA), de 2008 a 2021, começando aos 18 anos no papel de CEO gerenciando US$ 6 bilhões e depois como consultor sênior. O Family Office, cujo site identifica Eric Woods como o diretor, não respondeu de imediato a um pedido de comentário.

Conselheiro

Quando perguntado sobre sua empresa via LinkedIn, Eric Woods disse: “Eu não tenho nada a dizer e meu escritório da família também não”. E acrescentou: “Embora Matt seja um conselheiro, não somos afiliados à compra da Virgin por Matt, o que presumo que seja sobre isso”.

Após o questionamento da Reuters ao LinkedIn sobre se as contas de Woods e McDermott, o site assinalou que estas eram genuínas, mas ambas as contas foram retiradas do ar. O LinkedIn se recusou a discutir os casos específicos, mas disse que sua política era remover contas consideradas fraudulentas.

Brown disse que não poderia falar pelos dois homens ou explicar por que suas contas do LinkedIn foram suspensas. Ele acrescentou que Woods era “um grande homem e um homem muito bem-sucedido” e “pelo que me lembro de Dan, um ser humano incrível”. Brown disse ainda à Reuters ter sido produtor de um documentário de 2009, ‘Loose Change’, (sem título traduzido para o português, mas ‘Mudança perdida’ na tradução popular) que sugeriu que os ataques de 11 de setembro eram uma conspiração do governo dos EUA.

Korey Rowe e Dylan Avery, parceiros no projeto, disseram que deram a Brown um crédito de produção quando o filme foi lançado, uma vez que ele havia cedido uma câmera a Avery. Tanto Rowe quanto Avery disseram, no entanto, que Brown não pagou milhares de dólares em custos de estúdio de gravação que havia prometido verbalmente e cortaram seu crédito em versões posteriores do filme.

Sobre sua curta carreira no mundo do cinema, Brown disse que forneceu uma quantia “razoável” de financiamento e que sua separação com os dois “se resume a uma diferença de personalidades”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *