Se dependesse de Freire, PPS já estaria na oposição

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Publicado quinta-feira, 21 de outubro de 2004 as 19:36, por: CdB

Crítico das políticas econômica e social do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), garante estar decidido a deixar a base aliada e estuda com o PDT a fusão das duas siglas em uma só.

Segundo Freire, sua decisão ainda não reflete a posição do partido, mas ele enfatizou que grande parte dos militantes é favorável ao rompimento com o governo Lula.

– Apenas alguns, ligados a funcionários do governo, preferem os objetivos do governo aos objetivos do partido. Eu não acho que isso esteja errado, o problema é que o poder de cooptação do governo é muito forte – disse à Reuters na quarta-feira o deputado pernambucano.

O PPS está representado no primeiro escalão do governo por meio do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, com quem Freire vem disputando a liderança do partido, mas as divergências sobre os caminhos da legenda poderia levar a um racha na sigla.

Apesar de o ministro negar a intenção de deixar o PPS, especula-se que um dos destinos possíveis seria o PTB. O deputado Roberto Jefferson (RJ), presidente do partido, declara abertamente a intenção de atrair Ciro e lançá-lo como candidato ao governo do Rio de Janeiro em 2006.

Para tentar acirrar a disputa com o ministro, Freire não poupou críticas ao ministério, que classificou como um “reduto de liberação” de verbas para emendas parlamentares e disse que o “flerte” com os trabalhistas constrange o PPS.

– Não dá para saber se o Ciro é pau-mandado do Lula ou se tem posição própria, o que se sabe é que o Lula está usando o Ciro como peça de barganha – afirmou o deputado, referindo-se a especulações de que a filiação no PTB agradaria Jefferson, que busca mais um ministério para o partido, além do Turismo.

Consciente que o PPS poderia perder filados com a saída da base governista, Freire não mostrou preocupação com a possibilidade de reduzir o número de parlamentares, que hoje é de 23 deputados e dois senadores.

– Essa parcela favorável ao governo é insignificante. Não vejo problema em ter a minha bancada reduzida, o que não podemos fazer é transformar o partido numa sublegenda ou numa legenda de aluguel.

Por isso, uma das idéias do presidente do PPS é juntar-se ao PDT, que perdeu a figura de seu líder com a morte em junho do ex-governador e presidente do partido Leonel Brizola.

Essa aproximação, explicada pelos dois lados como “embrionária”, é mais um sinal do desejo de Freire em levar o PPS para uma oposição independente não-alinhada a PSDB e PFL.

Nas eleições municipais, no entanto, o PPS, mais precisamente o grupo de Freire, decidiu apoiar o candidato tucano José Serra na disputa pela prefeitura de São Paulo.

As criticas que levaram o PDT a sair do governo são as mesmas ecoadas por Freire. No mês passado, o PPS divulgou um documento, intitulado “Sem mudança não há esperança”, pedindo alterações no rumo da política econômica que, segundo ele, “privilegia o sistema financeiro e não se preocupa com o desenvolvimento do país”.

– A recuperação da economia é pífia, irrelevante e sem sustentabilidade. O governo é refém de uma política que privilegia o sistema financeiro. Lula não só deu continuidade às políticas do Fernando Henrique como as aprofundou – afirmou.