Rússia e Turquia suspendem acordo sobre gasoduto

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Publicado quinta-feira, 3 de dezembro de 2015 as 10:59, por: CdB

Por Redação, com ABr – de Moscou/Ancara:
Rússia e Turquia, que enfrentam momentos de tensão depois do abate de um caça russo pelas forças turcas, suspenderam as negociações para a construção conjunta de um gasoduto que ligará a Rússia à Turquia e ao Sul da Europa. O anúncio foi feito nesta quinta-feira em Moscou pelo ministro da Energia russo, Alexander Novak, citado pela RIA Novosti, a agência de notícias oficial da Rússia.

O projeto "TurkStream" prevê a construção de quatro gasodutos para transportar o gás natural russo pelo Mar Morto
O projeto “TurkStream” prevê a construção de quatro gasodutos para transportar o gás natural russo pelo Mar Morto

– O trabalho para a formulação dos acordos para o ‘TurkStream’ está suspenso após a comissão intergovernamental sobre comércio e cooperação econômica ter parado com as reuniões” na sequência das medidas de retaliação russas contra Ancara – disse Novak.
O projeto “TurkStream” prevê a construção de quatro gasodutos para transportar o gás natural russo pelo Mar Morto, ligando o Sul da Rússia ao Oeste da Turquia, permitindo Moscou contornar a Ucrânia, país com o qual está em conflito por causa da Crimeia, para abastecer a Europa.
O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a construção do gasoduto em dezembro de 2014, após a Rússia ter se associado a empresas norte-americanas para garantir a exportação do gás natural através da Bulgária, com destino ao Sul da Europa.
Um pouco antes das declarações do ministro da Energia, Alexei Miller, presidente da Gazprom, a maior empresa pública russa de gás natural, disse aos jornalistas que teria de pedir à Rússia para retomar as negociações sobre o projeto. “Se os turcos considerarem que necessitam deste projeto, podem contactar-nos”, disse Miller, citado também pela RIA Novosti.
No início de outubro, a Gazprom disse que o projeto de gasoduto iria sofrer alguns atrasos devido ao aumento da tensão militar, após o envolvimento da Rússia nos ataques aéreos contra posições do Estado Islâmico na Síria.
Em junho, a Gazprom e as empresas Shell (anglo-holandesa), E.ON (alemã) e OMV (austríaca) assinaram um acordo para construir um novo gasoduto, o “Nord Stream-2”, com destino à Alemanha, reforçando o já existente “Nord Stream”, construído sob o Mar Báltico.
Estado Islâmico
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguéi Lavrov, disse, na quarta-feira à noite, que Moscou não permitirá que a Turquia quebre a união na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico.
– Se o abate do avião russo, por parte da Força Aérea turca, teve como objetivo pôr em questão a formação de uma frente unida (contra o Estado Islâmico), posso assegurar que não funcionou e não vai funcionar – afirmou, em Belgrado.
O chefe da diplomacia russa está na capital sérvia para participar da cúpula ministerial da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Osce), que começou nesta quinta-fiera e vai até sexta-feira.
Lavrov disse estar disposto a reunir-se com o chanceler turco, Mevlüt Cavusoglu, que também participa do fórum.
– Queremos deixar claro o ponto de vista turco – declarou Lavrov, dizendo que “seria triste se não houvesse nada de novo”.
A Rússia subiu o tom das críticas à Turquia pelo abate de um avião de combate, na semana passada, quando voava sobre a fronteira turco-síria, no âmbito das operações de apoio de Moscou ao regime do presidente da Síria, Bashar Al Assad.
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou na última segunda-feira que o abate do avião foi determinado para proteger as rotas de contrabando de petróleo do Estado Islâmico para a Turquia.
Tráfico de petróleo
O vice-ministro da Defesa russo, Anatoli Antonov, acusou na quarta-feira a Turquia, e, mais especificamente o presidente turco Recep Erdogan e seus parentes, de se beneficiarem do tráfico de petróleo roubado pelos extremistas do Estado Islâmico na Síria e no Iraque.
– De acordo com as nossas informações, neste negócio criminoso estão envolvidos altos líderes turcos, o presidente Erdogan e a sua família – disse em conferência de imprensa o vice-ministro da Defesa da Rússia.
As relações entre a Rússia e a Turquia degradaram-se depois do abate do avião de combate russo por caças-bombardeiros turcos, no dia 24 de novembro.
O Ministério da Defesa adiantou que vai divulgar por meio da página oficial que mantém na internet informações pormenorizadas que confirmam as acusações, disse Antonov em resposta às declarações de Erdogan, que desafiou Moscou a apresentar provas sobre as implicações da Turquia no negócio.
O vice-ministro da Defesa russo sublinhou que “os lucros da venda do petróleo, cerca de US$ 2 milhões, é uma das mais importantes fontes de financiamento das atividades terroristas na Síria”.
Segundo Antonov, o dinheiro do tráfico do petróleo é utilizado no recrutamento de mercenários e na compra de armamento. “O principal consumidor do petróleo roubado dos legítimos proprietários na Síria e no Iraque é a Turquia”, disse o vice-ministro da Defesa, que acusou os turcos de saquearem os países vizinhos.
A Rússia diz que descobriu três rotas que são utilizadas pelo grupo Estado Islâmico para introduzir o petróleo roubado em território turco, onde depois é exportado por petroleiros para outros países.
Os extremistas islâmicos dispõem, segundo as mesmas informações, de 8,5 mil caminhões cisterna para o transporte diário de cerca de “200 mil barris de petróleo” nas zonas de extração sob o seu controle.
De acordo com Antonov, as revelações são apenas uma parte das informações em poder da Rússia sobre os “horríveis crimes cometidos pelos dirigentes turcos, que financiam diretamente o terrorismo internacional”, disse. “Já sei que agora vão dizer que tudo o que estamos revelando hoje são mentiras. Sendo assim, se não têm nada, então que permitam aos jornalistas o acesso a todos os locais que citamos”.
Por outro lado, Antonov negou que a “deposição de Erdogan” seja o objetivo desejado pela Rússia. “Esse é um assunto do povo turco. O nosso objetivo é lutar, de forma conjunta, no sentido de se conseguir bloquear as fontes de financiamento do terrorismo”, disse, admitindo, que as autoridades turcas não vão reconhecer qualquer responsabilidade. “Ninguém vai demitir Erdogan e não vão reconhecer nada. Sobretudo, se estiverem com as caras manchadas de petróleo roubado”.