A ditadura imposta ao país após o golpe de Estado de 1964 construiu um serviço de informações (SNI, Doi-CODI etc) do qual não escapavam nem mesmo os alunos secundaristas dos educandários do Estado, no Rio de Janeiro. O controle sobre os estudantes foi registrado em longos dossiês, sobre as atividades de cada um, suas amizades, os jornais que liam, os livros e até mesmo as conversas que mantinham nos corredores das escolas.
O hoje embaixador Sergio Nogueira Lopes, distinguido com medalhas e honrarias por sua atividade beneficente pela Sociedade Pestalozzi do Brasil, em 1968 foi considerado como um “elemento perigoso” para a ordem social e política do Brasil. Era o ápice da ditadura.
– O período de exceção foi uma determinação dos países desenvolvidos para que o Estado brasileiro se adequasse, econômica e financeiramente, para se apresentar como um cliente capaz de honrar seus compromissos. Socialmente, isso foi um desastre. Teve um custo elevado pelo esmagamento das oposições, com prisões e assassinatos – disse.
As atribuições da ditadura, além de torturar os presos políticos nos porões dos quartéis, passavam também por controlar as atividades dos alunos. Nogueira Lopes lembra o episódio em que foi acusado de sacar uma arma contra um de seus professores, Antonio Fernandes de Carlos, que o perseguia pelas ideias “consideradas subversivas, na época”, disse.
– O professor me deu nota 4 em uma prova em que eu gabaritei. Fiz um requerimento à direção para que ele corrigisse novamente a prova. Isso foi feito e a nota restabelecida. Esse fato o deixou muito aborrecido e, durante um intervalo entre as aulas, na cantina, os ânimos se exaltaram. Eu estava armado, sim, e ele sabia disso. Na época, todos nós queríamos estar prontos a defender o Brasil contra uma possível invasão norte-americana. Mas não cheguei a puxar (o revólver). Ainda assim, ele registrou queixa contra mim, em uma delegacia mas, um tempo depois, foram retiradas por falta de provas – lembra.
Nogueira Lopes integrava a União Nacional dos Estudantes (UNE), outra das organizações consideradas como subversivas, na época, pelas forças de repressão, e ajudou a organizar um movimento “de indisciplina”, como os militares fizeram constar em sua ficha, o qual insuflava “seus colegas a deflagrarem (sic) greves”. Assim como Nogueira Lopes, laureado anos mais tarde com a cátedra de Sociologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a autoria de uma série de livros, milhares de outros estudantes brasileiros também passaram pelo crivo ditatorial. Dentre eles, ainda há dezenas que enfrentaram uma sina mais violenta e ainda permanecem desaparecidos.