Reencarnação traz história absurda com Nicole Kidman

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Publicado quinta-feira, 24 de março de 2005 as 11:38, por: CdB

 Não há nada no personagem representado por Nicole Kidman, Anna, em Reencarnação, que sugira que ela seja pouco inteligente, que viva atormentada ou que esteja sofrendo um colapso nervoso. Apesar disso, quando um garoto de 10 anos de idade afirma ser a reencarnação de seu marido, que morreu dez anos antes, ela não demora a dizer “sim, está bem, claro”.

Reencarnação, estréia de sexta-feira, é um mistério paranormal ao qual falta espinha dorsal. Não há suspense na história porque ela própria não parece acreditar em si mesma. A trama não se dá ao trabalho de sugerir qualquer razão pela qual uma mulher nova-iorquina inteligente e de alta classe faria as escolhas que Anna faz.

Nicole Kidman está belíssima no filme, com corte de cabelo à la garçonne e roupas irretocáveis, mas o filme não convence, e não há nada que ela possa fazer para resolver o problema. Os fãs que torciam para assistir a outro sucesso da atriz premiada com o Oscar inevitavelmente irão se decepcionar.

O primeiro filme do diretor Jonathan Glazer foi Sexy Beast, um trabalho em registro totalmente diferente, no qual Ben Kingsley pôde se esparramar pela tela em sotaque cockney e vulgar. Em Reencarnação, tudo é elegância e classe, como condiz com os moradores do Central Park West.

O filme começa com o marido de Anna aparentemente morrendo debaixo de uma ponte no momento em que fazia cooper na neve. Nada é revelado sobre ele ou sua viúva, mas, ao que parece, ela leva dez anos até se sentir pronta a encarar a possibilidade de outro relacionamento amoroso. Deve ser um recorde em termos dos moradores do Upper East Side de Manhattan.
Quando um garoto de 10 anos (Cameron Bright), que afirma que seu nome verdadeiro é Sean, aparece na festa de noivado de Anna com Joseph (Danny Huston) e declara que, na realidade, é seu marido que morreu, Sean, a novidade lança uma sombra sobre as festividades.

Se o roteiro se desse ao trabalho de preparar o espectador, mostrando algo sobre o passado e a situação emocional atual de Anna, isso talvez ajudasse a tornar menos risível o fato de ela acabar por aceitar que o garoto seja quem afirma ser.

Pouco depois já vemos Anna dividindo uma banheira, nua, com o garoto, e não demoramos a vê-la planejando fugir com ele e prometendo casar-se com ele dentro de 11 anos, quando ele completar 21.

O garoto, que raras vezes sorri e possui voz profunda, como a de um homem adulto, assusta o noivo de Anna a ponto de este ficar maluco, dar uma surra no menino e quebrar a mobília da sala de Anna.

Ninguém pára para sugerir que sua reação violenta e exagerada seria capaz de fazer a maioria das noivas repensar a idéia do casamento.

Lauren Bacall está presente no papel da mãe de Anna, mas mesmo suas falas divertidas não conseguem injetar muito ânimo na história.

E Anne Heche também contribui como uma mulher duvidosa cujo envolvimento com o garoto pode complicar as coisas. Mas nada convence ou faz sentido, e, quando Reencarnação termina, o filme desaparece da cabeça do espectador em pouquíssimo tempo.