Radicais do PT apelam aos notáveis para se defender

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Publicado quarta-feira, 14 de maio de 2003 as 05:01, por: CdB

Os chamados radicais do PT vão recorrer a um time de notáveis para fazer suas defesas na Comissão de Ética do partido e prometem uma verdadeira guerra contra o enquadramento.

Acusados de “indiciplina partidária”, a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados João Batista de Araújo (PA), o Babá, e Luciana Genro (RS) terão na lista de testemunhas o jurista Dalmo de Abreu Dallari e o sociólogo Emir Sader, além do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

A estratégia conjunta do trio radical foi acertada nesta terça-feira durante reunião realizada no gabinete de Heloísa Helena. Dallari disse que os parlamentares não podem ser punidos por manifestarem suas opiniões.
– Trata-se de um direito assegurado na Constituição – argumentou.

Para o jurista, os rebeldes são coerentes e têm razão quando se posicionam de forma contrária à taxação dos servidores públicos inativos (Um dos pilares da reforma da Previdênciam proposta pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva).

– É inconstitucional, não há dúvida. Essa polêmica é muito desgastante, e o partido deveria procurar um entendimento – disse jurista.

Na reunião desta terça, os radicais decidiram amplificar as críticas às mudanças de posição do ministro da Casa-Civil, José Dirceu, e do presidente do PT, José Genoino, e vasculhar outras alterações de rota por parte dos moderados. Quando eram deputados, em 1999, tanto Dirceu como Genoino votaram contra a cobrança previdenciária dos aposentados.

– Eles podem ter mudado de opinião, mas não podem obrigar os outros a fazer o mesmo. O grave é que, historicamente, o PT sempre teve posição contra esta cobrança – defendeu Dallari que, embora não seja formalmente filiado ao partido, participou de suas principais decisões desde a fundação, em 1980.

Suplicy foi na mesma linha de raciocínio e adiantou qual será a tática adotada pelo trio radical.

– Quando Genoino tinha a idade da Heloísa, também dizia coisas que eram consideradas muito radicais, e o partido sempre lhe garantiu o direito de expressão – observou o senador, que, ao lado das outras testemunhas, deporá perante a comissão no próximo dia 25.

Heloísa Helena passou esta terça-feira debatendo sua situação dentro do partido.

– Eu não quero ser expulsa – gritou ela para Babá, durante reunião a portas fechadas em seu gabinete.

Enquanto Babá, Luciana e o neo-radical João Fontes (PT-SE) passaram o dia distribuindo críticas à cúpula do PT e ao governo, a senadora procurou ser mais cautelosa.

– Estou aplicando a teoria da pinça: fico com um pé na institucionalidade e outro nos movimentos sociais – disse Heloísa Helena ao Estado.

– O estatuto e a tradição do PT não prevêem possibilidade de punição por opiniões – completa a senadora