Produtores no Amazonas utilizam agrotóxicos sem orientação

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado segunda-feira, 2 de maio de 2005 as 13:55, por: CdB

Oitenta e três por cento dos produtores de frutas e verduras de Manaus, Iranduba, Careiro da Várzea e Manacapuru usam agrotóxicos, sendo que 90% deles nunca recebeu qualquer orientação técnica para a escolha ou aplicação do produto.

Os quatro municípios em questão concentram a maior parte da hortifruticultura do Amazonas e são alvo da pesquisa “Implantação de um Sistema de Monitoramento e Controle de Intoxicação Humana e Ambiental por Agrotóxicos no Estado do Amazonas”, realizada pela Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). A pesquisa irá até abril de 2006 e seus resultados preliminares, os quais a Agência Brasil teve acesso, ainda não foram publicados.

Entre setembro de 2004 e março deste ano,os pesquisadores entrevistaram 320 agricultores e constataram que o uso do agrotóxico é geralmente aconselhado por colegas ou pelos próprios vendedores. “Isso é um sintoma da ausência de apoio técnico pelos órgãos encarregados de extensão. A conseqüência é que o agricultor escolhe um defensivo incorreto para aquela cultura ou praga e o aplica sem conhecer os procedimentos corretos para evitar a sua intoxicação”, explicou Andrea Waichman, coordenadora da pesquisa. É como se alguém comprasse remédio sem prescrição médica, a partir da indicação de um amigo ou do atendente da farmácia, e tomasse o medicamento sem ao menos ler sua bula.

Outro fato grave apontado pela pesquisadora é o uso generalizado de produtos que contêm substâncias altamente tóxicas, já proibidas na União Européia. O parion-metil é uma delas (23,29% das plantações de hortifruticultura pesquisadas receberam defensivos nos quais essa sustância estava presente). “O pequeno produtor escolhe o defensivo de acordo com a rapidez do seu efeito: tem que ser forte”, analisou Andrea.

Até abril do próximo ano, a pesquisa dará origem a um banco de dados aberto à consulta pública, disponível pela internet, no qual serão catalogados os tipos de agrotóxicos usados no Amazonas, a composição química de cada um deles, a quantidade empregada nas lavouras e o número de casos de intoxicação. Para auxiliar nesse registro, os pesquisadores pretendem treinar agentes de saúde a identificar os sintomas da intoxicação por inseticidas e herbicidas. Além disso, todos os agricultores entrevistados receberão orientação dos pesquisadores sobre o uso correto dos defensivos agrícolas. “A agricultura orgânica, infelizmente, ainda é um ideal muito distante no nosso estado”, lamentou Andrea.