Problemas da Argentina ganham destaque no Festival de Berlim

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Publicado segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004 as 21:16, por: CdB

Um filme de baixo orçamento sobre a vida turbulenta de uma família judaica em Buenos Aires em meio ao colapso econômico da Argentina foi saudado com aplausos na sua estréia mundial no Festival de Cinema de Berlim, na segunda-feira.

“El Abrazo Partido” conta a história de um jovem arquiteto judeu ocioso que tenta obter um passaporte polonês para sair da Argentina e mudar-se para a Europa, contra o pano de fundo da crise econômica argentina.

Enquanto vai descobrindo o legado judaico de seus avós, que deixaram a Polônia para fugir do Holocausto, o personagem representado por Daniel Hendler fica sabendo mais sobre seu misterioso pai, que, como muitos outros judeus, deixou a Argentina nos anos 1960 e 1970 para combater por Israel.

Mas o que diferencia “El Abrazo Partido” dos outros trabalhos exibidos na Berlinale são as cenas de rua de Buenos Aires e o caos organizado do shopping decadente onde a mãe do personagem principal dirige um pequeno negócio.

“Queríamos fazer o público sentir que ele faz parte do filme, aproximá-lo ao máximo dos atores”, disse o diretor Daniel Burman.

“El Abrazo Partido” é uma co-produção argentino-francesa-italiana-espanhola feita com orçamento de apenas 800 mil dólares.

“Filmanos no meio da rua, com pessoas comuns andando ao lado, às vezes olhando de volta para a câmera”, contou Burman.

“Depois de algum tempo, elas pararam de nos dar atenção. Buscávamos um estilo livre; queríamos nos


“El Abrazo Partido” é um dos 23 filmes que concorrem aos prêmios Urso de Ouro e Urso de Prata. O filme foi exibido no quinto dia da Berlinale, que terá 11 dias e é o primeiro festival europeu de cinema de maior destaque no ano. Ele é visto como um dos mais importantes do mundo, ao lado dos de Cannes e Veneza.
Cerca de 3.500 jornalistas e 12 mil compradores de direitos de filmes estão acompanhando o festival, que traz quase 400 longas em suas diversas competições.

“El Abrazo Partido” é um entre dezenas de filmes latino-americanos que serão exibidos. O diretor do festival, Dieter Kosslick, disse que quer dar destaque à América Latina, cujos problemas vêm perdendo espaço na mídia européia, desde 2001, em função dos temores relativos à segurança e ao Iraque.

A Argentina se recupera de um colapso financeiro de proporções épicas sofrido em 2002, mas seus bancos continuam fraquíssimos, e o governo continua inadimplente com sua dívida de 88 bilhões de dólares.

Ambientado no bairro de Once, em Buenos Aires, “El Abrazo Partido” capta o clima econômico pessimista e como os personagens o enfrentam. Apesar dos tempos difíceis, a maioria conserva sua alegria de viver.

“Eu quis mostrar como as pessoas estão tentando sobreviver por conta própria dentro do cotidiano de suas situações desastrosas”, disse Burman, cuja família também emigrou da Polônia.

“Nós, argentinos, temos a vantagem de não perder tempo pensando no futuro. Eu mesmo vivo o aqui e o agora. A situação no país é extraordinária.”

“Quando venho para a Europa, fico espantado ao ver como as pessoas vivem falando do futuro. O que eu puder fazer, farei agora, e o futuro pode esperar”, concluiu o diretor.