Powell se diz preocupado com as medidas antiterror de Putin

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Publicado terça-feira, 14 de setembro de 2004 as 16:55, por: CdB

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, disse nesta terça-feira que as alterações políticas propostas pelo presidente russo Vladimir Putin para combater o terrorismo desgastariam as reformas democráticas da Rússia.

– Na prática, isso é um retrocesso em algumas das reformas democráticas – disse Powell à Reuters.

– Estamos preocupados e queremos discutir isso com os russos.

O líder do Kremlin disse na última segunda-feira que queria uma nova lei eleitoral para limitar o número de partidos políticos e para lhe dar poder para nomear líderes regionais com o objetivo de combater o terrorismo. As medidas seriam consequência do sangrento sequestro a uma escola no sul da Rússia, em que morreram pelo menos 327 reféns.

Putin foi imediatamente acusado por críticos de tentar se aproveitar da tragédia para aumentar seu poder.

Apesar de demonstrar solidariedade ao desejo de Putin de perseguir os “terroristas”, depois do seqüestro de Beslan, da derrubada de dois aviões russos e de uma explosão no metrô de Moscou no mês passado, Powell disse que a Rússia precisa contrabalançar essa necessidade com as liberdades democráticas.

– Compreendemos a necessidade de lutar contra o terrorismo… mas na tentativa de persegui-los acho que é preciso alcançar o equilíbrio adequado para assegurar que o movimento não se distancie das reformas democráticas e do processo democrático – afirmou.

O governo dos EUA já foi acusado de fazer vista grossa às preocupações de que o Kremlin vem se tornando cada vez mais autocrático, principalmente por não ter criticado publicamente a prisão e o julgamento do ex-presidente da petrolífera Yukos.

Mas, em janeiro, Powell mandou um recado nada sutil à Rússia, expressando num artigo publicado no jornal Izvestia sua preocupação com a democracia russa e seu comprometimento com a lei.

Desde a tragédia de Beslan, em que morreram mais de 150 crianças, Washington amenizou sua antiga exigência de que a Rússia procure uma solução política para a Chechênia, onde um conflito separatista ocorre há dez anos.

Na semana passada, Putin rechaçou a possibilidade de negociar com os rebeldes e cutucou Washington dizendo:

– Por que vocês não se reúnem com Osama bin Laden, convidam-no para ir a Bruxelas ou à Casa Branca para iniciar negociações, perguntar a ele o que ele quer e dar isso a ele para que os deixe em paz?

– Acho que os russos acreditam que, no fim, uma solução política terá de ser encontrada… Mas quando se está diante de uma tragédia terrível como a de Beslan é preciso se concentrar em garantir a identificação dos assassinos, dos terroristas, e ir atrás deles – disse Powell.

– Não pode haver solução política ou diálogo político com terroristas ou assassinos… ao mesmo tempo, é preciso encontrar um equilíbrio entre combater o terrorismo de forma agressiva e também garantir que não se atinjam as instituições de Estado que estão na base da democracia.