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Quando não se tem nada aproveitável para dizer… |
A presidenta Dilma Rousseff deveria mirar-se no exemplo do Marco Polo Del Nero e não sair tão cedo do seu canto.
Por motivo diferente, claro. Ao contrário do cúmplice de José Maria Marin, ela pode correr mundo à vontade, sem o mínimo receio de prisão e extradição. Deste tipo de vexame a Dilma nos poupa.
Mas, cada vez que abre a boca no exterior, deixa morrendo de vergonha todos que a temos como presidenta da República.
Ora atribui seu novo recorde de impopularidade a um inverossímil preconceito sexual por parte dos brasileiros que há poucos meses a reelegemos. Não consta que, depois de outubro de 2014, tenha ocorrido em nosso país uma epidemia de machismo. É, portanto, uma saída pela tangente, uma
desculpa de mau pagador.
E, se nem na Quadrada das Almas Perdidas uma lorota destas cola, muito menos na capital do Império. Os leitores do Washington Post, um dos jornais mais importantes do planeta devem ter sentido pena de nós.
Ora Dilma faz um verdadeiro samba do crioulo doido por não levar em conta a regra de ouro de que roupa suja se lava em casa. Qualquer mandatário que se desse ao respeito e tivesse respeito pelo seu cargo não se manifestaria em solo estrangeiro sobre um assunto doméstico tão pobre e tão podre.
Primeiramente, porque é o partido no poder que está sendo duramente atingido por alcaguetagens dos seus parceiros de negócios, a ponto de tirar Dilma do sério. Então, a primeira coisa que ocorre a um estrangeiro dotado de espírito crítico é: como o tal Partido dos Trabalhadores foi envolver-se com uma ralé tão nauseabunda?!
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…é melhor lembrar que em boca fechada, não entra mosca. |
Se, ademais, tal cidadão conhecer o passado do PT, mais estupefato ainda ficará: pois não é que uma agremiação nascida das lutas contra o patronato agora foi pilhada em associação criminosa com um dos segmentos mais vorazes e inescrupulosos do empresariado, os empreiteiros de obras! Virou tudo de cabeça pra baixo?
É óbvio que as declarações de Dilma, dadas durante conversa com jornalistas em Nova York, se endereçavam ao público brasileiro; mas, eram a hora e o lugar errados para as fazer, porque, queira ela ou não, o que presidente da República fala em viagem internacional tende a ter repercussão também internacional. Por que não incumbir um porta-voz qualquer de dar tal recado cá no Brasil?
É claro que melhor mesmo teria sido ela, simplesmente, calar. Pois, nada se aproveita desta mistura de alhos com bugalhos:
“Eu não respeito delator, Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas. Eu garanto para vocês que eu resisti bravamente“.
O que tem a ver, afinal, uma militante que combateu uma ditadura bestial com um meliante que assaltou o Estado em plena democracia?
Como equiparar o ato de não ceder às bestas-feras que queriam torturar e matar os melhores brasileiros com o ato de não ajudar os agentes de um Estado de Direito a denunciarem e processarem os piores brasileiros ?
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Daria para esperar outra coisa deste indivíduo? |
Como uma ex-resistente se tornou tão desnorteada a ponto de ela própria propor que a comparem a um reles Ricardo Pessoa (ao afirmar que ele fez o que ela não aceitou fazer), como se fossem valores de mesma grandeza?
Como uma presidente da República se põe a deitar falação sobre investigações policiais e judiciais em curso (o que, claro, configura pressão indevida e absolutamente injustificável sobre outras esferas do Estado)?
E, tendo tal forçação de barra pontos de contato com os disparates demagógicos de alguns articulistas e blogueiros chapa branca, é o caso de indagamos se ela estará insinuando a existência de alguma semelhança entre os métodos da Polícia Federal e os do DOI-Codi, entre o juiz Sérgio Moro e os auditores militares. Espero que não, pois aí já seria desespero de causa; e causas defendidas com tamanho desapreço pela verdade estão desde logo fadadas à derrota.
De resto, como ex-preso político que quase enfartei aos 19 anos por causa das torturas e saí dos porões da ditadura com uma lesão permanente, acrescento que a comparação que Dilma fez peca também no aspecto de ser descabido ela afirmar que resistiu bravamente aos que queriam transformá-la numa delatora.
É preconceituoso e desumano qualificar de delatores aqueles de quem os torturadores arrancaram alguma informação; todos sabemos que a resistência humana tem limites, quem cultuava super-homens (ou super-mulheres…) eram Nietzche e os nazistas.
Os correspondentes aos delatores premiados de agora não eram os pobres torturados, mas sim os vis cachorros da repressão –militantes que, aceitando propostas indecentes dos torturadores, passavam a trabalhar para eles, em troca da liberdade, de uma nova identidade e de um pagamento mensal. Ou seja, negociavam os detalhes da barganha, firmavam o pacto e então mudavam de lado, para receberem contrapartidas dos verdugos. Não porque fossem coagidos a tanto, mas simplesmente para encurtarem a permanência na prisão e levarem vida melhor fora dela.
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Quem se deita com cães, amanhece com pulgas. |
Se Dilma queria comparar o dono da construtora UTC com alguém, por que não fez a escolha correta, equiparando-o aos ditos cachorros? Talvez porque assim a pertinência seria maior mas a dramaticidade, menor, não servindo a seu propósito de usar um nobre passado como escudo contra acusações (verdadeiras ou não) que lhe fazem no presente.
Muitos dos que optamos por travar o bom combate em circunstâncias tão extremas, arriscando a vida, a integridade física/psicológica e a segurança de nossos entes queridos, consideramos imensamente mais importante o que fizemos então do que qualquer coisa que façamos ou sejamos agora.
Mesmo para salvar uma Presidência da República sob a democracia burguesa, não utilizaríamos como trunfo nem faríamos chantagem emocional a partir de uma luta que para nós foi sagrada. Até porque temos um débito de gratidão para com os companheiros que não estão mais conosco.
É pena que a Dilma não seja mais como nós nem pense mais desta maneira.