Política externa e a arrogância extremista de Israel

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Publicado terça-feira, 29 de julho de 2014 as 15:00, por: CdB
Colunista prevê maior importância na campanha presidencial para a política externa brasileira
Colunista prevê maior importância na campanha presidencial para a política externa brasileira

 A política externa nas últimas campanhas presidenciais não ocupou grandes espaços, como se o tema fosse pouco importante. Nesta nova campanha é possível que em função dos últimos acontecimentos na Faixa de Gaza e a criação do Banco de Desenvolvimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) o tema passe a ser debatido pelos candidatos.

O Brasil chamou de volta o embaixador em Israel para demonstrar contrariedade em relação ao que vem sendo feito contra a população civil em Gaza. Ação covarde e desproporcional que tem provocado morte de civis, entre eles, crianças e mulheres. Há denúncias inclusive sobre o uso de novas armas que estão sendo testadas sobre a população civil.

A resposta de Israel ao posicionamento brasileiro, através de um porta-voz do governo extremista foi desaforada, revelando arrogância e preconceito.

Israel, que se utiliza do Holocausto para tentar justificar o injustificável nas ações contra os palestinos, silenciou totalmente quando na Ucrânia grupos nazistas, aliados dos Estados Unidos, agiram, inclusive contra judeus. É óbvio que o silêncio ocorreu devido à posição do aliado norte-americano.

O posicionamento do Brasil ao chamar para consultas o embaixador em Israel poderia ser até mais enfático, inclusive se desfazendo do relacionamento comercial com empresas de segurança israelense. Mas o Itamaraty preferiu ser mais comedido apenas chamando de volta o embaixador. E um próximo passo poderá ser o rompimento de relações diplomáticas.

É importante que os eleitores conheçam o que os candidatos pensam em matéria de política externa. Nesse sentido, artigo de Rubens Barbosa na terça feira (22), no jornal O Globo com o título “Nova visão externa”, é esclarecedor.

O autor, que se apresenta como presidente do Conselho de Comércio Exterior da FIESP deixa claro como seria a política externa do candidato tucano Aécio Neves. Em linhas gerais, não difere muito da política adotada nas duas gestões do então Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Numa linguem rebuscada, como é do estilo do autor, que também já foi embaixador do Brasil em Washington e talvez queira se credenciar para ocupar cargo de destaque no Itamaraty em um governo tucano, fica clara a defesa da revisão da atual política externa, o que significaria em essência a volta ao leito anterior. Nada de integração latino-americana, mas a prioridade de relacionamento seria com o parceiro Estados Unidos.

Pelo que se pode depreender do exposto por Barbosa, um governo Aécio tentaria reviver a ALCA, a Área de Livre Comércio das Américas já detonada faz tempo por não servir aos interesses nacionais, mas sim ao do capital dos Estados Unidos. Para disfarçar, Barbosa preferiu não se referir textualmente à ALCA. Usa de subterfúgios, claro, mas em determinado trecho deixa escapar a seguinte joia do pensamento subserviente: “Conclusão das negociações comerciais em curso com a União Europeia e lançamento das bases para um acordo preferencial com os Estados Unidos. Reavaliação das prioridades estratégicas com a China”.

E pensar que os tucanos e aliados, juntamente com alguns segmentos da mídia apresentam Aécio Neves como o candidato da mudança e da renovação.

Em suma: está ou não na hora da política externa entrar na pauta de discussões dos candidatos à Presidência da República?

No mais, aqui no Rio de Janeiro ocorreu um fato lamentável, aliás, dois. Primeiro, a prisão, com provas bastante discutíveis, de acusados de prática de violência durante manifestações de rua. O outro fato foi à reação de um pequeno grupo ao agredir jornalistas na saída de cinco presos que se encontravam em Bangu.

Além, de errarem o alvo na agressão, o grupo deu combustível para os setores conservadores se voltarem contra manifestantes que não erram o alvo dos protestos. Deram munição também para se tirar o foco da grosseira manipulação da informação e da criminalização que veículos como a Rede Globo e o jornal do mesmo nome estão promovendo contra sindicatos combativos.

Em suma, os equivocados, deliberadamente ou não, fizeram o jogo da direita. Se por acaso se considerem de esquerda, fazem parte, como diria Darci Ribeiro, da esquerda que a direita gosta.

Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil); preside a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI – seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla (no prelo).

Direto da Redação é editado pelo jornalista Rui Martins com o apoio do Correio do Brasil.