Plano Real foi ‘brilhante’, diz Stanley Fischer

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Publicado sexta-feira, 2 de julho de 2004 as 19:26, por: CdB

Nos dez anos do Plano Real, o Brasil teve uma intensa relação com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse período, Stanley Fischer, vice-diretor gerente do FMI de setembro de 1994 a agosto de 2001, foi uma das pessoas que acompanhou mais de perto os momentos importantes do Plano.

Fischer – hoje vice-presidente do Citigroup, em Nova York – é um acadêmico respeitado mundialmente e que acompanhou muitos planos econômicos em diferentes países do mundo nos mais de sete anos que esteve no FMI. Para ele, o Plano Real foi “extremamente brilhante” e, dos planos que conhece, foi um dos mais bem executados e “intelectualmente mais impressionantes”.

O ex-vice-diretor do FMI também defende os executores do Plano das acusações de que o câmbio fixo durou tempo demais. Ele argumenta que esse é um julgamento muito difícil de se fazer, porque foi durante o período de câmbio indexado e de inflação baixa que os brasileiros entenderam que realmente não queriam mais inflação.

Stanley Fischer está otimista com as perspectivas para a economia brasileira e acha que, se o Brasil continuar o programa atual do governo, implementar as reformas e se abrir mais ao comércio internacional, poderá crescer até mais de 6% ao ano a longo prazo. Ele elogiou ainda o que chama de “liderança do Brasil” nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O senhor considera que o Plano Real derrotou a inflação ou os índices de inflação recentes são ainda muito elevados em comparação a outros países?

Stanley Fischer – O fato de que a economia brasileira depois da desvalorização de 1999, basicamente, não teve uma inflação nem perto do que todos estávamos com receio de que teria e o fato de que a enorme desvalorização durante a campanha eleitoral em 2002 levou a uma inflação relativamente baixa é testemunha dos resultados do Plano Real e das mudanças na economia que aconteceram nos anos subsequentes.

Outra questão são quais os níveis de inflação que o Brasil deve ter nos anos futuros. A meta do Banco Central, entre 4% e 6%, 4,5%, é ainda um pouco elevada. Do ponto de vista do longo prazo, o Brasil deveria ter valor da moeda ainda mais estável, mas não há qualquer dúvida para mim de que o que acontecendo agora é testemunha do sucesso do plano real.

Quais os problemas que permanecem? Seria a falta de crescimento ou a questão da dívida?

Fischer – O plano em si consistiu principalmente de políticas macroeconômicas e especialmente da vontade de derrubar a inflação. E nisso foi bem-sucedido. Não era um plano amplo para restaurar o crescimento com todas as medidas estruturais que o Brasil sabe que precisa.

Os problemas existentes não são coisas que não foram feitas dentro do Plano Real, porque não tenho certeza se havia a intenção de fazê-las dentro do Plano.

O Brasil tem alguns problemas bem conhecidos do próprio governo. Por exemplo, quando o presidente Lula esteve em Nova York na semana passada, ele falou sobre eles e disse que precisam ser resolvidos. Esses problemas são um impedimento para o crescimento. Por exemplo, a infra-estrutura, é preciso aumentar o nível de educação no país, a questão das desigualdades sociais no país e a lei de falências que estava sendo votada no Congresso.

Todas são questões básicas sérias para melhorar os aspectos estruturais da economia brasileira que vão promover crescimento. O Brasil sabe que precisam ser feitas, o governo atual sabe que devem ser feitas.

Não diria simplesmente que o Plano Real não foi completado, apenas diria que todos os países precisam continuar fazendo reformas.

O FMI se opôs ao Plano Real?

Fischer – Eu estava