Pílula do dia seguinte não muda hábitos sexuais nos EUA

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Publicado terça-feira, 4 de janeiro de 2005 as 22:24, por: CdB

O fácil acesso à “pílula do dia seguinte” não incentiva as mulheres a praticarem mais sexo sem segurança, segundo um estudo divulgado hoje. “Embora muitos políticos e mesmo alguns funcionários de saúde estejam preocupados que as jovens abusem da contracepção de emergência caso tenham fácil acesso, nosso estudo mostra que na verdade elas não usam (a pílula do dia seguinte) tanto quanto esperávamos”, disse Tina Raine, médica e professora da Universidade da Califórnia, em San Francisco, que chefiou o estudo.

“Infelizmente, esses dados nos mostram que ainda não estamos influenciando as jovens a assumirem menos riscos em seu comportamento sexual”, acrescentou ela. “Como só uma fração das mulheres (do estudo) que tiveram sexo desprotegido usaram a contracepção de emergência, parece que precisamos gastar nossa energia para facilitar que essas mulheres tenham contraceptivos, em vez de dificultar.”

A “pílula do dia seguinte” tem esse nome porque impede a concepção se for tomada horas depois do ato sexual. Ela está à venda sem receita médica em seis Estados norte-americanos, assim como em todo o Brasil. No ano passado, as autoridades dos EUA impediram o laboratório Barr de vender a sua versão do produto, chamada Plan B, sem receita.

O estudo, publicado na edição desta semana da Jama, Revista da Associação Médica Americana, entrevistou 2,117 mil mulheres de 15 a 24 anos na região de São Francisco. Algumas delas foram orientadas a, se necessário, obter a pílula sem receita em uma farmácia (o que é permitido na Califórnia); outras receberam o Plan B de antemão; um terceiro grupo foi orientado a procurar a pílula em uma clínica, caso isso fosse preciso.

Todas as mulheres envolvidas disseram que queriam evitar a gravidez. Ao final do estudo, cerca de 40% das mulheres nos três grupos disseram ter feito sexo sem proteção, e 8% delas ficaram grávidas, sem diferenças significativas entre os grupos. Porém, as mulheres que receberam a pílula antes tinham quase o dobro de probabilidade de usá-la do que as mulheres que precisavam recorrer às clínicas.

Os especialistas estimam que metade dos 3,5 milhões de casos anuais de gravidez não-desejada nos EUA seria evitada caso houvesse acesso mais fácil à contracepção de emergência, segundo o estudo. “Como há uma clara evidência de que nem o acesso às farmácias nem o fornecimento de antemão compromete o comportamento contraceptivo ou sexual, não parece razoável restringir o acesso por meio de clínicas”, concluiu o relatório.