Petrobras quer concluir obras no Comperj e refinaria no Nordeste o quanto antes

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Publicado domingo, 10 de maio de 2015 as 16:53, por: CdB
Comperj
Funcionários do Comperj estão com salários e outros benefícios atrasados

A conclusão de refinarias em Pernambuco e no Rio de Janeiro estará prevista no Plano de Negócios 2015-2019 da Petrobras a ser divulgado até junho, mas ainda há incertezas sobre quando e como serão efetivados os investimentos para o encerramento das obras nas unidades envolvidas no escândalo de corrupção, de acordo com uma fonte próxima à companhia. A finalização da Refinaria do Nordeste (Rnest), também conhecida como Abreu e Lima, e do Comperj dependerá do fôlego da estatal para aportes e da disponibilidade de empreiteiras, uma vez que as maiores estão proibidas de fechar novos contratos com a petroleira em razão dos desvios apontados pela Polícia Federal.

Eventuais investidores interessados em ter uma fatia minoritária nos ativos de refino –ainda que a política de preços de combustíveis no Brasil seja pouco estimulante para um sócio privado– também poderiam ajudar na conclusão dos projetos, disse a fonte, que está envolvida na elaboração do plano.

– As duas (refinarias) estão no plano, e o timing depende de algumas variáveis – afirmou a fonte, na condição de anonimato, sem dar detalhes sobre investimentos projetados para 2015-2019.

Procurada, a Petrobras não comentou imediatamente o assunto.

No balanço do ano passado, a companhia anunciou redução de mais de 44 bilhões de reais no valor de seus ativos, com a Rnest e o Comperj respondendo por cerca de 70% dessa desvalorização, e a empresa citando diversos problemas, como falha no planejamento dos projetos. A estatal ainda contabilizou perdas de R$ 6,2 bilhões de reais por corrupção em 2014. Apesar dos atrasos e dos bilhões já gastos na Rnest e no Comperj, os projetos estarão no plano de negócios porque, com eles, a Petrobras ficará muito próxima de ter no futuro uma autossuficiência em refino.

A refinaria no Rio de Janeiro está com mais de 80% das obras concluídas e poderá agregar até 200 mil barris de capacidade, disse a fonte. Já o segundo trem de refino da Rnest – o primeiro foi inaugurado em 2014 – também fará parte do plano de negócios, com previsão de agregar 115 mil barris/dia de processamento.

A fonte também confirmou que não mais haverá complexo petroquímico no Comperj. No início de fevereiro, a petroquímica Braskem já havia indicado desistência do projeto. O plano de investimento para os próximos cinco anos da Petrobras, atualizado anualmente, que sempre projeta a maior parte dos aportes para a área de Exploração & Produção, também virá menor que o anterior, disse a fonte, sem detalhar.

Uma boa medida disso é intenção da Petrobras no próximo leilão de áreas exploratórias do governo, em outubro, quando a empresa terá uma atuação “precisa” e “não será megalomaníaca”, disse a fonte. Normalmente, a petroleira domina tais licitações.

Investidores

Para concluir a Rnest e a unidade de refino em obras no Rio de Janeiro, a Petrobras cogita a possibilidade de fechar parcerias com investidores nacionais e estrangeiros. Nas próximas semanas, duas missões de China e Japão estarão no país para estudar oportunidade de investimentos no Brasil, incluindo ativos da Petrobras, disse a fonte. Afetada pela corrupção, queda do preço do barril de petróleo e um endividamento crescente, a estatal tem agora um plano de desinvestimentos em 2015 e 2016 mais agressivo, de cerca de US$ 13 bilhões.

– Se aparecer um interessado nesse investimento, o que permitiria sobra de caixa para outros projetos, vamos fazer essa parceria. Poderíamos dar 10% ou 20% de uma refinaria, por que não? – questiona.

Um investidor privado de fora do Brasil para a área de refino, porém, certamente teria mais interesse em atuar no país com uma política mais transparente de reajustes de combustíveis e que reflita cotações de mercado. A nova diretoria da estatal, no entanto, tem evitado fazer comentários detalhados sobre os preços administrados do governo.

Projetos e pagamentos

O “timing” para o andamento de Comperj e Rnest esbarra na capacidade de investimentos e também nos prestadores de serviço acusados de envolvimento no esquema de sobrepreço em projetos e pagamentos de propinas. Dependendo do andamento das investigações e dos acordos de leniência entre empreiteiras e governo, além das decisões judiciais, a Petrobras poderia recorrer a empresas de fora do país, caso fornecedores locais continuem impedidos de realizar negócios com a estatal, em função dos casos de corrupção. E a fonte acrescenta:

– Há dois problemas para esses projetos: capacidade de investimento e problema de fornecedor. Quando os fornecedores vão fazer acordo com a Justiça e vão estar novamente habilitados para continuar? O outro problema é: em não havendo acordo de leniência, há no mercado fornecedor capacitado para continuar?.

A ideia da estatal, superadas as adversidades, é primeiro finalizar a obra do Comperj e depois concluir a obra da refinaria de Pernambuco, que já está em operação com seu primeiro trem de refino.

Produção

A queda na produção mensal de petróleo da Petrobras nos primeiros meses deste ano, na comparação com o mês anterior, tem chamado a atenção do mercado e de analistas sobre a capacidade de recuperação e de geração de caixa da Petrobras. No entanto, disse a fonte, os dados negativos do primeiro trimestre se devem a paradas programadas e não programadas de plataformas, que não comprometem a meta prevista para este ano.

– Isso é comum, tem parada programada, não programada, mais ou menos dias úteis… Mas está tudo muito bem planejado e dentro da ideia de crescimento da produção este ano de pelo menos uns 3%. Dificilmente isso vai ter alteração – adicionou.

A meta da companhia divulgada no início do ano é de um crescimento de 4,5% na produção de petróleo no Brasil em 2015 ante 2014, com variação de 1 ponto percentual para mais ou para menos. Em 2014, a produção da nacional de petróleo da Petrobras somou 2,034 milhões de barris/dia, crescimento de pouco mais de 5% ante 2013 – após dois anos seguidos de queda na extração anual – com a colaboração do pré-sal.

De acordo com a fonte, a produção no pré-sal já chegou a atingir o pico de 808 mil barris/dia de óleo equivalente (boe, petróleo e gás), e a tendência é expansionista, com possibilidade de se atingir 1 milhão de boe até 2016.