Petistas treinam para devolver denúncias ao ninho tucano

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado segunda-feira, 3 de maio de 2004 as 11:51, por: CdB

Roteiro da audiência do presidente da Caixa, Jorge Mattoso, na Câmara indica que estratégia do PT para reduzir impacto do escândalo palaciano nas eleições muncipais é jogar suspeitas sobre contratos firmados na gestão anterior.

O governo petista está ensaiando para tentar fazer uma limonada com o suco azedo do Caso Waldomiro Diniz. Passados quase 80 dias da revelação do escândalo sem a descoberta de novidades mais comprometedoras, a bancada do PT já exercita a retórica com que pretende enfrentar a oposição nas eleições de outubro. A idéia é desviar as suspeitas para os ombros da administração anterior. O roteiro do contra-ataque ficou claro na audiência pública de três Comissões Permanentes da Câmara, que ouviram na tarde da terça-feira (27) explicações do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso. Ele falou sobre a prorrogação por 25 meses do famigerado contrato de R$ 650 milhões com a empresa Gtech, que teria despertado o interesse de Waldomiro, conforme conclusão de sindicância do Palácio do Planalto.

A linha de fogo começa com a denúncia do desmonte do Estado promovido pelo governo tucano, lembrando que estava nos planos da gestão Fernando Henrique Cardoso a privatização da Caixa – um patrimônio do povo brasileiro, agente dos programas de habitação, saneamento e transferência de renda aos mais pobres. Pelo discurso dos petistas, o contrato com a Gtech seria um efeito colateral da política privatizante daquele governo “neoliberal”. Resultado da venda da Datamec, empresa de processamento de dados da instituição alienada em 1999.

O segundo passo é levantar suspeita sobre a sucessiva renovação de um contrato de tal porte feito sem licitação, reajustado em 200% em um período em que a inflação ficou nos 34%. O trunfo é uma auditoria e uma sindicância feitas pela Caixa, no ano passado, por encomenda do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério Público (MP) – que vieram à tona esta semana com a ação de improbidade movida por procuradores federais contra 17 ex-dirigentes e funcionários da Caixa envolvidos no caso ao longo do governo anterior. Como tempero, o fato de o falecido ex-governador do Paraná José Richa, fundador do PSDB, ter sido vice-presidente do Conselho de Administração da Racimec, empresa que fez o primeiro contrato com Caixa, antes de ter o controle acionário comprado pela Gtech, que herdou o filão.

Segundo Mattoso, o lado positivo do caso é que o Judiciário e a opinião pública estão compreendendo a necessidade de se tomar providências urgentes para livrar a Caixa desse contrato. Respondeu a Pompeo de Mattos que a diretoria da Caixa não tem obrigação de gravar as audiências, até porque faz mais de 3 mil contratos por mês. Lembrou que a gestão anterior não gravou todas as reuniões com a Gtech – apenas 10 de 12 reuniões teriam sido registradas. “Apesar de terem gravado, não se negociou nada. Nós fizemos três reuniões e conseguimos negociar. Como disse no Senado, se tivesse que repetir talvez gravasse. Mas o fato de gravar não trás à luz o resultado. Não gerou nada”.

Em seguida, repetiu a Babá o que já havia dito antes. Não adiantava ter prorrogado por 12 meses, pois esse tempo já passou e a Justiça ainda não julgou o caso. “Nós vamos precisar de mais de 25 meses e vamos ter de negociar isso. Não dá para fazer assim com a chave e desligar”. Para Carneiro, disse que não tem provas que confirmem inidoneidade da Gtech. Lembrou que o ex-presidente do STJ Nilson Naves não considerou as solicitações da Advocacia Geral da União, que voltava a insistir com o novo presidente Edson Vidigal. “Acreditamos que foram reabertas as condições para resolver esse caso. Mas o fato é que a Caixa está aprisionada à Gtech até que a justiça se pronuncie.