Pesquisadores dizem que OMS fracassou no combate à tuberculose

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Publicado terça-feira, 14 de setembro de 2004 as 17:30, por: CdB

Os esforços globais para controlar o crescimento da tuberculose no mundo não estão funcionando, e é preciso tomar mais providências para combater a doença, disseram especialistas em saúde pública nesta terça-feira.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) adotou em 1993 uma estratégia com o objetivo de reduzir à metade as mortes por tuberculose na década seguinte. A doença, transmissível pelo ar, mata 2 milhões de pessoas por ano.

Dez anos depois do início dessa estratégia, chamada Dots (sigla em inglês para tratamento sob observação direta), a doença continua a crescer, disseram pesquisadores da Universidade de Harvard.

– Apesar de quase dez anos de Dots, a maior parte do mundo não está mais perto de controlar a tuberculose – disseram Tim Brewer e Jody Heyman num texto publicado no Journal of Epidemiology and Community Health.

O texto foi contestado pela OMS, que ressaltou a redução da incidência de tuberculose em vários países, do Peru à China.

– Há muitas evidências – Peru, Cuba, Chile, Vietnã, China, Marrocos. Eles atingiram reduções substanciais na incidência – disse à Reuters Mario Raviglione, diretor do departamento da OMS dedicado ao combate à tuberculose.

Segundo ele, a agência da ONU está no rumo certo para atingir sua meta de detectar 70 por cento das novas infecções por tuberculose e curar 85 por cento delas até 2005.

Mas Raviglione reconheceu que não existe uma fórmula mágica para erradicar uma doença que é carregada de forma assintomática por um terço da população mundial.

O sistema Dots é uma abordagem que envolve tratamento e vigilância dos pacientes por seis meses. O Dots Plus foi adotado depois, para lidar com várias cepas resistentes a medicamentos.

Brewer e Heymann, que utilizaram modelos por computador e dados epidemiológicos recentes sobre a doença, concluíram no trabalho que a estratégia atual deve ter um impacto apenas modesto no controle da epidemia.

– Aperfeiçoar o controle da tuberculose no mundo requer abordagem que ultrapassam o atual programa da OMS – disseram eles, acrescentando que seria mais eficaz aliar o tratamento à prevenção.

De acordo com Raviglione, uma prevenção eficiente requer que pessoas saudáveis recebam medicamentos durante nove meses, o que seria impraticável.

O aumento da tuberculose é mais crítico em países com altas taxas de infecção por HIV/Aids, como a África subsaariana e partes do Leste Europeu. Os pesquisadores acusam a OMS de, em vez de analisar novas abordagens, querer expandir o Dots.

O HIV debilita o sistema imunológico e torna os pacientes mais vulneráveis à tuberculose, que responde por cerca de 13 por cento das mortes relacionadas à Aids no mundo, segundo estimativas da OMS.