Paraguai se despede de seu mais famoso escritor

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Publicado quarta-feira, 27 de abril de 2005 as 17:49, por: CdB

As bandeiras foram hasteadas a meio pau no Paraguai em homenagem ao escritor Augusto Roa Bastos, que morreu na terça-feira. O corpo do novelista está sendo velado em um museu de Assunção.

Vencedor do Prêmio Cervantes de literatura, em 1989, Roa Bastos faleceu aos 87 anos devido a uma parada cardíaca. Na sexta-feira passada, o escritor foi submetido a uma delicada cirurgia após ter sofrido um acidente em sua residência.

Roa Bastos foi o escritor mais conhecido do Paraguai e um dos mais importantes da literatura latino-americana. Por muitos anos foi um incansável adversário da ditadura militar que dominou o Paraguai por 35 anos, até 1989.

O corpo do escritor está sendo velado no antigo edifício do Congresso – hoje convertido em um museu -, onde ficará até sexta-feira, data prevista para a realização da cremação.

– Estou aqui para homenagear uma pessoa que fez muito pelo nosso país. Vamos lembrar dele para sempre – disse Cláudia, uma menina de 10 anos, que esteve no velório de Roa Bastos acompanhada pela sua professora e por suas colegas de classe.

O presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, que decretou três dias de luto nacional, também esteve no velório de Roa Bastos.

– Sua vida é um exemplo para os jovens e adultos e espero que seus testemunhos revertam-se em paixão pela cultura, pela arte e pela literatura para o povo paraguaio – disse o presidente.

O escritor, considerado um símbolo contra a ditadura do general Alfredo Stroessner, viveu a maior parte de sua vida no exílio. Boa parte de sua obra literária foi publicada quando residia na Argentina. Roa Bastos também viveu na França, Espanha, Inglaterra e Itália

Sua consagração literária veio depois da publicação de “Yo el Supremo”, em 1974, livro que retrata a vida do ditador Jose Gaspar Rodríguez de Francia, que comandou o país durante o século XIX.

Desde seu exílio na Europa, Roa Bastos liderou um grupo de intelectuais que denunciava ao mundo os abusos e violações dos direitos humanos do regime implantado pelo general Stroessner.

No mesmo ano que o ditador foi derrotado, o escritor recebeu o Prêmio Cervantes de literatura, um dos mais importantes da língua hispano-americana.

Em seu testamento, Roa Bastos pediu para que seu corpo fosse cremado. Também pediu para que não fossem realizadas homenagens póstumas. “Prefiro estar secretamente no coração do meu povo do que ser convertido em nome de alguma rua qualquer”, disse em documento.