Para Lula, “dívida” com índios levará anos para ser paga

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Publicado terça-feira, 19 de abril de 2005 as 16:43, por: CdB

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou nesta terça-feira o Dia Nacional do Índio ao lado de povos de diferentes etnias e homologou cinco novas reservas em diversas regiões do país.

O presidente disse que as terras até agora reconhecidas não representam um fim dos problemas indígenas e que ainda há um longo caminho para devolver aos índios tudo o que lhes foi tirado nos últimos séculos.

– Queria apenas dizer aos nossos irmãos representantes dos povos indígenas brasileiros que vai levar muitos anos para que a gente consiga devolver o que foi tirado de vocês – disse.

As reservas homologadas somam cerca de 225 mil hectares.

Lula ressaltou que os problemas que afetam os povos indígenas não estão solucionados apenas com a homologação. É necessário dar condições de educação, saúde e trabalho a essas populações, além de cuidar para que “os próprios índios não desmatem suas terras”.

– Depois da terra homologada, tem tudo pra fazer ao índio brasileiro.

O presidente contestou as versões da história que afirmam que o índio não foi colonizado pelos portugueses por não gostar de trabalhar.

– Durante muito tempo, as escolas brasileiras falaram que os índios eram preguiçosos…quando, na verdade, o que vocês querem é viver por sua própria conta e às custas do seu próprio trabalho – afirmou.

Cerca de 12% do território nacional já foi reconhecido como terra indígena. Desde 2003, o governo homologou 55 reservas, totalizando 9,5 milhões de hectares.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) reconhece 604 terras, das quais 480 já estão homologadas, demarcadas ou em processo de demarcação e aproximadamente dois mil matriculados em universidades e faculdades brasileiras.

A exemplo do presidente Lula, que pediu perdão aos africanos na semana passada pela escravidão no Brasil, o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, fez o mesmo, em nome do governo, aos povos indígenas do país.

O evento desta terça-feira contou com a presença de cerca de 27 etnias indígenas. Convidado ilustre da solenidade, o cacique Raoni, da etnia caiapó, fez um longo discurso de reivindicação.

Com o dedo indicador apontado ora para Lula ora para Bastos, ele pediu que o presidente “olhe” pelos povos indígenas e faça com que o “pessoal branco” os respeitem.

Raoni veio à solenidade com o corpo pintado, chinelo, cocar, calça e cinto. Sentou-se ao lado de Lula e não parou de falar com o presidente durante toda a cerimônia.