Para diretor da OMS, gripe aviária mataria 50 milhões de pessoas

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Publicado segunda-feira, 29 de novembro de 2004 as 19:48, por: CdB

O vírus da gripe aviária é bem mais letal que o da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave, na sigla em inglês), que afligiu a Ásia no ano passado, e poderia provocar uma epidemia que mataria até 50 milhões de pessoas, disse um dirigente da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta segunda-feira.

A estimativa da OMS divulgada na semana passada de que o H5N1 poderia infectar até 30 por cento da população mundial e matar entre 2 e 7 milhões de pessoas é conservadora, disse Shigeru Omi, diretor do escritório regional do Pacífico-oeste da OMS.

“O alcance máximo é maior… talvez 20 a 50 milhões de pessoas”, afirmou ele, num discurso em Hong Kong.

“Não teria nem comparação com a SARS”, disse, referindo-se à doença que matou 800 pessoas ao redor do mundo em 2003.

Enquanto a SARS tem uma mortalidade média de 15 por cento, o H5N1 da gripe do frango pode matar até um terço das pessoas infectadas. O vírus provou ser versátil e agora é capaz de entrar em mais hospedeiros, explicou Omi.

“Ele passou por grandes alterações genéticas e se tornou mais patogênico. Afetou não apenas pássaros, como gatos, porcos e tigres. E agora os patos têm a função principal (no desenvolvimento do vírus)”, afirmou Omi.

O vírus matou 32 pessoas na Tailândia e no Vietnã neste ano e levou ao abate milhões de galinhas, patos e outros pássaros em toda a Ásia.

Quase todas as vítimas humanas da gripe de frango em Hong Kong, Tailândia e Vietnã foram infectadas após terem contato direto com galinhas doentes.

Com a moléstia agora restrita a propriedades de aves, especialistas temem que seja apenas questão de tempo para que a enfermidade sofra mutação, penetre nos humanos e varra populações inteiras sem imunidade. Os porcos são vistos como as próximas vítimas.

Patos infectados atualmente não apresentam sintomas da doença mas espalham uma grande quantidade de vírus em suas fezes, uma fonte de preocupação, pois patos e galinhas são constantemente mantidos juntos na Ásia e isso pode aumentar as chances de infecção.

Duas empresas, uma norte-americana e outra japonesa, estão trabalhando numa vacina contra o H5N1 e testes clínicos sobre a eficiência e segurança desses antídotos já começaram, disse Omi. Mas ele alertou as pessoas contra o pensamento de que as vacinas curarão todos.

“Vacinas são muito úteis na redução da escala de uma epidemia, mas não é mágica”, disse.

Devido a razões comerciais, a produção em massa de vacinas poderá começar apenas depois que uma epidemia surgisse, o que significa que chegaria ao público com um atraso de cinco ou seis meses.

Hong Kong disse nesta segunda-feira que pode banir o abate de aves em mercearias na briga contra o vírus.

Desde 1997, cientistas do país estão lutando contra a prática disseminada de matança de frangos em mercados, quando o H5N1 pela primeira vez se espalhou entre humanos e matou seis pessoas no território.

Um porta-voz do departamento de alimentação disse que o governo pode designar um matadouro central ou restringir que animais sejam abatidos em algumas áreas.