Os opostos se atraem

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Publicado quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006 as 21:37, por: CdB

Duas décadas após o início da redemocratização do Brasil, o PT e o PSDB caminham para uma quarta disputa polarizada pelo comando do governo federal. Liderando os blocos de governo e oposição nas três últimas Legislaturas do Congresso Nacional, ambos tornaram-se os principais partidos da democracia brasileira, contrapondo-se ideologicamente e representando alternativas distintas da agenda política e da estratégia eleitoral.

O professor Celso Roma, do Departamento de Ciência Política da USP, estudou as diferenças entre o PT e o PSDB a partir de suas origens, da organização de suas estruturas internas, de seus programas e dos discursos de seus líderes e filiados. O resultado dessa pesquisa foi apresentado e publicado no X Encontro de Latinoamericanistas Espanhóis, realizado na Universidade de Salamanca, Espanha, em maio de 2004. Trata-se de uma análise fundamental para compreender o que está em jogo na eleição presidencial deste ano.

Com o título “Organização de Partidos no Brasil: o PT e o PSDB em Perspectiva Comparada”, o estudo mostra porque o PSDB deve ser considerado um partido de centro-direita e o PT, com transformações ainda em curso, caminhou da extrema-esquerda para a centro-esquerda do espaço político nesses 26 anos de existência, completados na semana passada.

Criado por congressistas com larga experiência no jogo político, o PSDB construiu uma estrutura de decisão descentralizada, com autonomia para os líderes e escassa participação dos demais filiados. Tornou-se um partido de quadros, como os liberais e os conservadores. Ao contrário, o PT teve origem em setores organizados da sociedade civil e convergiu para uma estrutura hierárquica com ampla participação de seus partidários na definição das ações do partido – características de um partido de massas, com democracia interna, forte adesão à ideologia e estrutura centralizada e disciplinada, como os partidos socialistas e comunistas.

Motivado pelos princípios de deliberação e centralismo democrático, o PT incluiu mecanismos diferenciados na sua estrutura organizacional: núcleos de base, contribuição obrigatória de seus filiados, concepção de que o mandato parlamentar pertence ao partido, aceitação das tendências internas e eleição direta dos dirigentes em todos os níveis de direção. Com essas regras, o partido burocratizou a estrutura decisória e criou mecanismos de consulta às bases para estimular a participação dos filiados, o que implica no choque constante de opiniões e vontades.
Os fundadores do PSDB, ao contrário dos fundadores do PT, eram políticos com experiência em eleições e no Parlamento, totalmente adaptados ao jogo eleitoral. Por suas circunstâncias de origem, formou-se uma organização favorável às ações autônomas dos líderes. Os membros do partido não podem impedir ou influenciar nas decisões tomadas pela liderança. Com isso, a coordenação de estratégias nacionais fica centralizada nas direções mais altas do partido. Isso facilita as ações estratégias do PSDB no campo nacional.

Apesar de o PSDB ter postulado, inclusive em sua legenda, a posição de partido social-democrata, as condições de sua origem, o tipo de atuação partidária de seus líderes e seu programa diferenciam a legenda tucana de outros partidos historicamente social-democratas. Os membros do PSDB não criaram o partido em articulação com as classes operárias e os sindicatos, tal como fez o PT. Além disso, não apresentam uma ideologia à esquerda voltada para a defesa do emprego e da renda do trabalhador e não estruturaram um corpo burocrático de tomada de decisões, para controlar os parlamentares e organizar setores da sociedade civil.

Diversamente, o PT teve uma origem típica de um partido social-democrata, mesmo não aceitando, desde o começo, o projeto da social-democracia. Articulou as preferências ideológicas de grupos sociais organizados para um objetivo socialista e vinculados a setores da sociedade civil, montando uma estrutura democrátic