Origem do dinheiro de dossiê é mistério

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Publicado sábado, 23 de setembro de 2006 as 16:39, por: CdB

Os depoimentos de três envolvidos na negociação do dossiê com informações contra candidatos tucanos prestados entre a manhã de sexta-feira e a madrugada deste sábado na Polícia Federal foram combinados para dificultar as investigações, afirmou o procurador Mário Lúcio Avelar. Até agora, nem a Polícia Federal, nem o Ministério Público conseguiram saber a origem dos recursos, cerca de R$ 2 milhões, utilizados para a compra do Dossiê Serra.

– A sequência de depoimentos foi articulada e tramada para ocultar a verdade dos fatos – disse a jornalistas o procurador, que investiga o caso, ao deixar a Superintendência Regional da PF após ouvir mais de 14 horas de depoimentos.

O procurador e o delegado da Polícia Federal, Diógenes Curado, colheram as versões do diretor licenciado do Banco do Estado de Santa Catarina Jorge Lorenzetti, do ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso e do ex-secretário do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas, sobre seus envolvimentos no episódio. Todos confirmaram terem participado em algum momento das movimentações que envolveram a tentativa de obtenção de documentos junto ao empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, dono da empresa Planam, que ligariam os candidatos do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, e à Presidência da República, Geraldo Alckmin, com a Máfia dos Sanguessugas.

Em suas declarações, eles negaram o envolvimento de dinheiro na negociação mas reconheceram a orientação do partido.

– Não se falou em momento algum da origem do dinheiro e tampouco se assumiu a responsabilidade pela compra do dossiê. Eles disseram que foi uma negociação que não passou por pagamento, por dinheiro para que uma revista publicasse depoimento ou matéria e uma sucessão de papéis com o ofício de promover uma propaganda política – afirmou Mário Lúcio.

Lorenzetti disse, em seu depoimento que os documentos seriam entregues a um integrante da campanha do candidato petista ao governo paulista, senador Aloizio Mercadante. A informação foi divulgada por seu advogado Aldo de Campos Costa, que afirmou que o dossiê seria entregue a Hamilton Lacerda, que deixou o comitê de Mercadante na quarta-feira após admitir ter negociado a divulgação do material com a revista IstoÉ.

– Foi dito que os documentos seriam entregues para o senhor Hamilton – afirmou o advogado.

Ele negou, entretanto, ter conhecimento que valores estavam sendo negociados em torno da documentação. Na sexta-feira da semana passada, a PF apreendeu em um hotel em São Paulo R$ 1,161 milhão, além de US$ 248,8 mil, em poder do advogado Gedimar Passos e do empresário Valdebram Padilha. Segundo a PF, o dinheiro estava sendo usado na aquisição do dossiê contra tucanos.

– Ele (Lorenzetti) ficou chocado quando soube que havia valores com o senhor Gedimar. Ele repudia a negociação de valores – disse seu advogado.

Lorenzetti, que atuava no comitê à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, negou qualquer envolvimento no caso do ex-coordenador da campanha e presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, conforme o advogado. Segundo a depor à PF na sexta, o ex-diretor de gestão e risco do Banco do Brasil Expedito Veloso confirmou ter analisado documentos do dossiê que incriminariam Abel Pereira, ex-funcionário do Ministério da Saúde na gestão de Barjas Negri, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Segundo afirmou a jornalistas, após depor por cerca de quatro horas a Diógenes e Mário Lúcio, sua participação no episódio da compra do dossiê contra tucanos foi puramente “técnica” e restrita à avaliação de depósitos feitos em contas de pessoas indicadas por Abel com recursos repassados pelo dono da Planam.

– Eu fui cumprir uma função técnica. Tinham depósitos na conta de pessoas indicadas por Abel Pereira – afirmou.

Bargas, outro dos envolvidos, que teve seu nome ligado ao caso após a revista Época ter divulgado nota na qual afirma que ele teria oferecido o dossiê à publicaçã