Odebrecht inclui donos de grandes empreiteiras em delação premiada

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Publicado quinta-feira, 26 de janeiro de 2017 as 12:44, por: CdB

A Odebrecht passou a citar, na delação premiada de seus executivos, os esquemas montados para a divisão dos contratos em consórcios criminosos com seus cúmplices

 

Por Redação – de Curitiba e São Paulo

 

Na selva em que se transformou a Operação Lava Jato, os investigados que se encontram no topo do comando começam a devorar os subalternos. Nos depoimentos dos delatores da Odebrecht, figuram agora os proprietários de empreiteiras de menor porte, a exemplo da Andrade Gutierrez, o empresário Sergio Andrade.

Presidente da companhia, Emílio Odebrecht cita concorrentes na delação premiada junto à Lava Jato
Presidente da companhia, Emílio Odebrecht cita concorrentes na delação premiada junto à Lava Jato

A Odebrecht passou a citar, na delação premiada de seus executivos, os esquemas montados para a divisão dos contratos. A quadrilha combinava resultados, nos consórcios ilegais. Entre os cúmplices consta, ainda, a construtoras Camargo Corrêa. Um dos citados no inquérito é Luiz Nascimento, importante acionista da empresa que, segundo informações vazadas à mídia conservadora, será em breve chamado a depor.

Temer e Odebrecht

Nascimento foi citado por um outro delator, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. O mesmo que cita o presidente de facto, Michel Temer, como um dos principais interessados em frear o ritmo de atuação dos promotores e delegados na investigação.

Machado afirma, em seu depoimento, ter recebido R$ 350 mil em dinheiro vivo de Nascimento, em 1998, destinados ao PSDB. Andrade, na época, é mencionado como um dos articuladores dos contratos públicos fechados com a Camargo Corrêa em obras no setor elétrico.

Os novos depoimentos de diretores da Odebrecht, em que citam os dirigentes das empreiteiras concorrentes, servem, agora, como uma espécie de balisa. Serão a base para novas convocação destes empresários para interrogatórios. A meta dos investigadores é obter informações complementares sobre os crimes cometidos.

Acordo de leniência

A Camargo Corrêa foi primeira empresa a fechar um acordo de leniência, em 2015. Em paralelo à delação premiada de seus proprietários, a negociação gerou a multa de R$ 700 milhões. A Andrade Gutierrez, por sua vez, fechou o acordo em perto de R$ 1 bilhão, para pagamento imediato. O ressarcimento do dinheiro público desviado já está em curso. Mas os números poderão mudar agora, diante dos fatos levantados por Odebrecht.

Desde de que eclodiu a Operação Lava Jato, o empreiteiro Emílio Odebrecht não escondeu sua decepção com os concorrentes. Na época, foi o único empresário a ser apontado, diretamente, como corrupto. Ele poderá cumprir pena de quatro anos de cadeia, caso a delação seja homologada. O cumprimento da pena, nesse caso, será regime domiciliar, segundo os temos do acordo.

O envolvimento de Emílio na distribuição de propinas ficou cristalizado no depoimento de seu filho e principal executivo da empreiteira. Marcelo está preso desde junho de 2015. Ele evitou falar sobre uma possível participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema. Disse, aos delegados da PT, que o patriarca da família deveria ser ouvido, diretamente.

As explicações

Procurada pela reportagem do meios conservadores de comunicação, a assessoria da Andrade Gutierrez disse, em nota, que a empresa “não teve acesso às delações e, portanto, não tem como comentar o teor das mesmas”.

Salientou, porém, que o sócio Sergio Andrade “nunca exerceu cargo executivo na companhia, não tendo poder decisório”. “Sendo assim, não faz sentido nenhuma implicação (na Operação Lava Jato)”.

A assessoria da Camargo Corrêa também garantiu, em nota, que a construtora foi “a primeira grande empresa do setor a colaborar com os órgãos de investigação e a firmar um acordo de leniência com a Justiça, com o compromisso continuado de corrigir irregularidades, aprimorar controles internos e sistemas de compliance”.

“Neste sentido, a Construtora Camargo Corrêa reitera que segue colaborando com as autoridades e não comenta especulações”, acrescentou.

A assessoria da Odebrecht disse, também em nota, que “não se manifesta sobre o tema, mas reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça”.

“A empresa está implantando as melhores práticas de compliance”, concluiu.