O show do público jovem

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Publicado quinta-feira, 7 de abril de 2005 as 19:48, por: CdB

A última passagem da banda mineira Skank pelo Rio, no Claro Hall, sábado passado, foi reveladora. Casa cheia. Próximo ao palco, centenas de adolescentes pulavam entusiasmados a cada música. E antes que o leitor pense que eles estavam ali levados pelo último hit da banda, ledo engano. Tinham na ponta da língua as músicas do primeiro disco, assim como sucessos antigos da banda. E para não dizer que os fãs adolescentes eram unanimidade, duas tias pareciam bem à vontade entre eles. 

No palco, Samuel Rosa esbanjava competência e carisma como frontman do Skank. Atrás dele, a banda mostrava uma precisão suíça (inclusive o baterista, Haroldo Ferreti, grande músico, com um estilo sóbrio e eficiente). Para completar a sempre divertida performance do quarteto mineiro, o palco trazia pequenos telões arredondados com imagens que traziam hora videoclipes da banda ora cores misturadas… muito bom gosto, em completa harmonia com a iluminação. O Claro Hall tem um palco bastante comprido e uma estrutura bem moderna para levar o show do Skank, ao pé da letra, a uma ótima produção. Claro que essa infraestrutura se reflete no preço dos ingressos (de R$ 120 a R$ 60 – metade para a garotada). 

O show começou com pouco mais de meia hora de atraso e já levantou todo mundo com É uma partida de futebol, sucesso dos anos 90 responsável por uma parte das 1.800.000 vendas de O samba poconé. Apenas uma música foi tocada duas vezes e ela, naturalmente, é Vou deixar, último hit da banda, que está em Cosmotron. E aí os sucessos radiofônicos foram se sucedendo e o público respondendo sempre da melhor forma possível. 

Samuel Rosa parece entender que, pelo menos no Rio, o Skank se tornou um grupo sério para adolescentes. O que pareceu um pouco equivocado foi o comentário do cantor, em um determinado momento do show, sobre uma possível diferença entre o público do Claro Hall e o público do Canecão. Não seria o mesmo? A julgar pelo preço do ingresso, não há distinção.   

Mas o comentário não comprometeu em nada o mineiro. Pelo contrário, Samuel lembrou da recente chacina no Rio e o fez de forma bem clara e emocional, sem cair em moralismos ou comentários reacionários. Os ânimos sempre se alteram em show de rock ou pop (acredito que o Skank deva estar em algum lugar entre os dois rótulos). A leveza do grupo não dá margem para qualquer tipo de discussão (talvez apenas sobre times de futebol). 

Ao término da apresentação, milhares de adolescentes voltaram felizes para casa.

Questão de público 

É notável constatar esse sucesso do Skank com as novas platéias e nem tanto com a juventude da época que acompanhou a banda nos primeiros discos (que hoje está na casa dos 20, 30 anos). Essa foi talvez a grande surpresa da apresentação. Curioso ver que a banda atrai novas platéias a cada disco, permanecendo com um astral bem jovem (que encontra ecos nas roupas da banda e na própria postura no palco). Algo similar ao que acontece com o Aerosmith desde o final dos anos 80 (platéias sempre jovens e uma divertida tentativa de se preservar através de roupas, maquiagens e tintas de cabelo). 

Esse interessante fenômeno involuntário, ao que tudo indica, de atração da juventude vai de encontro a outra banda, a Blitz. Mas ao contrário. 

Em um desses programas de fofoca, audiência quase zero, que passa nas tardes de algumas emissoras de TV aberta, Evandro Mesquita anunciava outro retorno da Blitz. Foi triste. Foi triste porque a Blitz lançou dois discos (obras-primas) nos anos 80, explodiu de um jeito nunca visto – logo com um público alvo adolescente – e acabou. Tentou voltar várias vezes, voltou, e foi ignorado. É como se fosse um Titanic que nunca termina de afundar. Agora a banda voltou mais uma vez, com duas novas vocalistas, e temos um Evandro Mesquita vociferando algo que levou o telespectador a pensar