Por mais suspeitos que sejam os motivos dos senadores barrados na Venezuela, a ofensa do presidente Nicolás Maduro e seus miquinhos amestrados não atinge apenas parlamentares de direita, mas o Congresso brasileiro como um todo e o Estado brasileiro como um todo. Ele conseguiu maximizar o prejuízo, ao reagir a uma óbvia provocação fazendo exatamente o que convinha aos inimigos.
Ela agora ficará pisando em ovos no que tange à Venezuela: qualquer forma de apoio ou manifestação de simpatia será questionada sob a alegação de nosso país não pode ser condescendente com quem hostilizou e humilhou senadores brasileiros.E, claro, as vivandeiras de quartel ganharam ótima munição para acusarem Dilma de não zelar pelo prestígio internacional do Brasil.
“O grupo de senadores hostilizados em viagem a Caracas defendeu, nesta sexta-feira (19), a exclusão da Venezuela do Mercosul e a convocação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do embaixador brasileiro no país, Rui Pereira, na Comissão de Relações Exteriores do Senado. ‘A Venezuela não tem o direito de participar do Mercosul porque não atende a cláusula democrática’, criticou o senador José Agripino. ‘É regime de exceção’, emendou.
Os senadores oposicionistas pretendem recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para cobrar uma posição do governo brasileiro em relação à cláusula prevista no Protocolo de Ushuaia. O documento prevê que, para participar do bloco econômico, os países precisam estar sob regime democrático.
A comitiva de oito senadores também responsabiliza o governo brasileiro pela hostilidade com que foram recebidos na capital venezuelana. “Houve um conluio entre os dois governos”, acusou Agripino. ‘O embaixador recebeu ordem de quem para não nos acompanhar? Foi do Itamaraty, foi do governo?’“.
“Embaixador do Brasil em Caracas, Ruy Pereira se absteve de acompanhar a comitiva de oito senadores que foi hostilizada na Venezuela nesta quinta-feira (18). Após recepcionar os visitantes no aeroporto, o diplomata se despediu. Alegou que tinha outros compromissos. Agiu assim por ordem do Itamaraty.
O governo brasileiro avaliou que a participação direta do embaixador numa comitiva cujo principal objetivo era visitar na prisão o líder oposicionista venezuelano Leopoldo Lópes causaria problemas diplomáticos com o governo pós-chavista de Nicolás Maduro“.
- ou são mentiras plantadas para influenciar a opinião pública e/ou o mercado;
- ou são verdades que o informante traíra quer botar no ventilador por estar servindo a dois senhores, ou que ele sopra para receber alguma contrapartida de antemão pactuada com o jornalista ou o veículo de imprensa.
Com estas ressalvas, afirmo que, caso nosso governo tenha mesmo abandonado brasileiros às feras (sejam eles parlamentares ou garis, direitistas ou esquerdistas) para não indispor-se com um governo estrangeiro, isto terá sido mais grave do que todos os motivos até agora alegados pelos defensores do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia. Tem um ativo blog com esse mesmo título.
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.