Novo líder palestino tenta trégua com militantes

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado terça-feira, 16 de novembro de 2004 as 19:03, por: CdB

O presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Mahmoud Abbas, se reuniu na terça-feira com líderes militantes na tentativa de conter os atentados contra Israel e permitir uma eleição tranquila para a escolha do sucessor de Yasser Arafat, no ano que vem, segundo autoridades locais.

Abbas, que já foi primeiro-ministro e é um possível candidato a presidente nas eleições marcadas para 9 de janeiro, iniciou as negociações com 14 grupos em Gaza na noite de segunda-feira.

Na terça-feira, ele começou uma reunião com o Hamas e deveria se encontrar também com representantes da Jihad Islâmica. Os dois grupos participam de uma onda de atentados suicidas contra Israel nos últimos quatro anos.

A morte de Arafat, na quinta-feira passada, despertou a esperança de uma nova fase do processo de paz no Oriente Médio, mas também criou temores de que haja violência entre os grupos palestinos que disputam o poder. No domingo, Abbas escapou ileso de um tiroteio entre militantes em Gaza.

Israel promete retomar o processo de paz se a nova liderança palestina contiver os ataques. Na terça-feira, o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, disse estar disposto a negociar com os palestinos o seu plano de desocupação da Faixa de Gaza — inicialmente concebido como uma medida unilateral, a ser executada em 2005.

“Se na hora virmos que há uma liderança palestina disposta a combater o terror, poderemos ter uma coordenação de segurança e um acordo relativo ao território da retirada”, disse Sharon em reunião com membros do seu partido, o direitista Likud.

Confidentes de Abbas dizem que ele pretende fechar um acordo com todas as facções, inclusive com aquelas que juram destruir Israel. Em troca, essas facções conseguiriam maior influência política.

“Nas negociações bilaterais haverá uma discussão de questões específicas, a questão de uma trégua ou talvez de um cessar-fogo temporário será discutida, porque é necessária”, disse o parlamentar Ziad Abu Amr, muito ligado a Abbas.

Mahmoud Al Zahar, um dos líderes do Hamas, disse que o grupo é favorável à realizações de eleições gerais — o que não ocorre desde 1996 -, mas que não aceitará uma trégua enquanto Israel não parar de cometer ataques e assassinatos nas áreas palestinas.

Como líder da OLP, Abbas é a figura palestina mais importante após a morte de Arafat. O principal cargo ocupado pelo falecido líder, o de presidente da Autoridade Palestina, está temporariamente sob o controle do presidente do Parlamento local, Rawhi Fattouh.

Ampliando o favoritismo eleitoral de Abbas, o influente ex-chefe de segurança Mohammed Dahlan disse na terça-feira que não vai se candidatar e que apóia a escolha do novo líder da OLP.

Mas alguns palestinos também apontam Marwan Barghouti, líder de base da facção Fatah, de Arafat, como possível candidato. Barghouti está preso em Israel por suposta participação em atentados.

Além disso, na terça-feira dois independentes anunciaram sua candidatura. Ambos são praticamente desconhecidos entre os palestinos.

Um deles, o professor universitário Abdel Sattas Qassem critica há anos a corrupção no governo de Arafat. O outro, Talal Sader, foi ministro dos esportes e assessor da Autoridade Palestina para assuntos religiosos.

Os militantes palestinos aceitaram suspender os ataques na época em que Abbas foi primeiro-ministro, em 2003, embora a trégua tenha durado apenas algumas semanas.

O Hamas e a Jihad Islâmica, apesar de distantes ideologicamente da cúpula palestina, tentam assegurar uma participação no governo pós-Arafat. Israel e os Estados Unidos temem o aumento da influência desses grupos e preferem fortalecer possíveis parceiros no processo de paz, como Abbas.