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Publicado quinta-feira, 27 de abril de 2006 as 21:42, por: CdB

Ou: quem tem medo da política externa brasileira

O ano eleitoral, como é normal, está se transformando em um brutal duelo entre as posições do governo – leia-se, do Partido dos Trabalhadores – e da oposição. Discute-se sobre tudo e a partir de todas as ações governamentais. Um dos campos, muito recente na tradição brasileira, de tal debate é a política externa do Brasil. Muito tradicionalmente poucas vezes a política externa foi para a ribalta no país. Confirmando, é talvez antecedendo, a máxima das campanhas americanas ( A economia, idiota! – ou seja, centre-se na economia se você quer ganhar eleições… ), a mídia brasileira, ex-funcionários do Itamaraty e (pasmem!) vários empresários criticam fortemente a política externa construída nos últimos anos.

Política externa como continuidade da política interna

Estamos em ano eleitoral, o que implica em saudável discussão sobre as opções nacionais e o que desejamos para o país. Contudo, muitas vezes, partidos, associações, publicistas de todos os tipos, confundem partido, governo e Estado. Pensam criticar as opções de uns, na verdade promovendo a demolição de instituições e políticas do Estado, de caráter nacional e de longa duração. É assim com a política externa brasileira: sendo sucesso caberia – nesta percepção provinciana – criticá-la, visando angariar votos.

Este tipo de demolição, a cada quatro anos, cria uma situação de confusão e perda de capacidade de distinguir o que é permanente, ou ao menos, de longa duração – pertencente bem mais à esfera do Estado do que à esfera do governo. Em países de regimes autoritários – como a China Popular, por exemplo -, não mudam ou mudam muito lentamente seus objetivos em política externa, perseguindo, no caso chinês, a reconstrução da unidade nacional desde há décadas. Assim, para a China Popular, superar as seqüelas de sua humilhação perante os imperialismos – entre 1830 e 1949 – é o objetivo central, trazendo de volta para sua configuração nacional aquelas regiões que considera (justa ou injustamente, é uma questão da apreciação chinesa) as regiões da Mandchuria, Xinjiang, Macau, Hong-Kong e, em fim, de Taiwan.

O mais adequado para o caso do Brasil, contudo, seria analisar a política externa de países democráticos. Nestes casos, a continuidade é notória, malgrado a mudança de partidos.

Assim, para a França, importância da União Européia, da força nuclear – force de frasppé – e da posição dominante na África é um acordo consolidado entre gaulistas, socialistas e liberais em Paris.

No caso dos Estados Unidos, sejam democratas ou republicanos no poder, o livre-comércio, o combate ao terrorismo e o narcotráfico, além da aliança militar ocidental – a NATO -, são dados constantes. Mudam os métodos, é verdade, mas mantém-se os objetivos. Desta forma, por exemplo, a senadora Hillary Clinton votou com George Bush sobre a imperiosidade (deles!) invadirem o Iraque em 2003.

No Brasil, no entanto, para grave risco da imagem externa do país e para a segurança de investimentos e acordos, vê-se o contrário. Sem dúvida alguma a pouca consistência dos políticos brasileiros em Relações Internacionais ajuda bastante na constituição desta forma de agir. Mas, a partidarização da política externa, a vontade de criticar o adversário em qualquer campo, é, sem dúvida, a maior característica. Isto supondo-se que todos estão trabalhando com o interesse nacional. No Brasil, infelizmente, todo especialista formado em poucas horas de leitura, pode afirmar os malefícios da política externa praticada pelo Itamaraty. Critica-se desde a “inutilidade” do Mercosul até a “maluquice” da Integração Sul-Americana, em contraste com o duelo eleitoral, por exemplo, no México, onde todos os candidatos pactuam tacitamente o compromisso com o NAFTA (malgrado o entendimento que o acordo deve ser mudado).

Política externa no Brasil

Um sem número de colunistas brasileiros afir