Nem sonhando

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Publicado segunda-feira, 3 de janeiro de 2005 as 10:10, por: CdB

O último filme de Bernardo Bertolucci, Os sonhadores, em cartaz desde o final de 2004, é um poço de decepção. Para quem tinha se surpreendido com seu filme anterior, o ótimo Assédio, vai ver em Os sonhadores uma tentativa canhestra de voltar no tempo. A história é sobre o convívio de três jovens cinéfilos (um casal de gêmeos siameses franceses e um americano) na Paris do final dos anos 60. Com um começo bastante promissor, a fita envereda por um caminho trágico de imersão psicológica canhestra. 

Filmes que se passam nos anos 60, politicamente contextualizados e culturalmente enraizados, são um prato cheio para qualquer amante de qualquer segmento artístico. O novo longa-metragem de Bertolucci é isso tudo e ao mesmo tempo não é nada. Até as referências musicais contribuem para uma visão caricatural da juventude ocidental da época. Notem que só tocam músicas de Jimi Hendrix, Janis Joplin e dos Doors. A nudez, em sintonia com os ideais libertários da época, torna-se algo demasiado na história, enquanto as referências fílmicas desaparecem e o trio entra em uma relação de ingenuidade e erotismo.

E ainda que todos os ingredientes que poderiam fazer de Os sonhadores um grande filme e o reduz a um fiasco, uma ejaculação precoce, tem-se ainda um contexto patriótico que torna o enredo ainda mais risível. Tudo nos leva a apenas um questionamento: como podem jovens tão envolvidos com política e cultura serem tão ingênuos? Ou ainda, como uma testemunha ocular da época (Bertolucci) pôde construir uma visão tão estereotipada de sua geração? 

Para não dizer que nem tudo está perdido, a relação dos pais com os filhos, o desfecho, inclusive, é muito bem realizada e crível.